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a minha querida mãe trata-me, aos 47 anos, como uma inapta para tomar conta de coisas básicas.
o pior disso tudo é que eu aceito o tratamento e sempre que possível ponho-o em prática.
ai, que cagalhão, gosto tanto de viver comigo dentro de mim!

… dei-me uma tareia, vai lá, vai!

[eu sei que estás triste. eu sei que já não estavas à espera destas mudanças. eu sei que te proteges – tão bem. como sempre o fizeste e conseguiste-o de forma brilhante. eu ainda estou a apalpar o terreno que essa proteccção me deixou. ainda não sei bem o que fazer com isso, mas vou aprender. eu sei que estás triste. eu também estou. mas não me carregues mais com isso. mais do que já carregaste nestes quarenta e sete anos da minha vida. não me faças sentir responsável pelo que sentes – estou farta de sentir isso, contigo, com toda a gente. como raio me ponho tanto a jeito para essa merda? na verdade, eu quero mesmo é cagar para aquilo que sentem por mim.]

a minha Rute passa a vida a pronunciar a palavra abandono.
não sei o que se passa com ela, ‘tadita.
mas, quando descobrir, juro que hei-de escrever um post mesmo à maneira sobre isso.

eu que sou tão efusiva a demonstrar afecto pelas minhas pessoas, há uma de quem gosto tanto, que me faz tão bem e eu sou incapaz de lho dizer de outra forma que não seja a mais formal possível.
vá lá… já a beijo quando a encontro!

… o mundo pula e avança
 como uma bola de algodão
que está a cair no chão.

não é que tenha abandonado as obras. quer dizer, pensando bem, eu ainda não comecei as obras.
[por isso é que tenho esta sensação de que as abandonei.]
abandonei.
não abandonei.
abandonei.
deixei-me abandonar.
abandonadora.
abandonada.
a banda.
nada.
de nada.
mande sempre!

“quem olha para fora, sonha, quem olha para dentro, desperta.” carl jung 

todas as segundas, a minha querida Rute, tão fofinha, tão querida, me diz isso. não com aquelas palavras, mas o sentido é o mesmo.
diz-me ela, a aNa vira-se para o exterior e entristece, já reparou?
na última sessão respondi-lhe: e a Rute a dar-lhe!
tive sorte em ela não me retorquir: e a burra a fugir!

há 3 anos fui a uma senhora que lê as mãos (a gripe toma-me conta dos neurónios, verdade! sinto-me atrofiada em coisas nojentas que demoram a sair de cá de dentro. e isto não é metafórico, mas também poderia ser. aliás, isto tudo – herpes, gripe – não passa de uma manifestação física do resto.).
e a dita senhora, de seu nome Dara, suponho que nome artístico (só não montei barraquinha na feira esotérica porque não consegui descobrir um nome artístico que fosse suficientemente credível e apelativo para a minha arte de pendular), disse-me uma série de coisas que eram verdade e atirou-me com uma a concretizar-se a curto prazo e que envolvia uma mulher com um filho. eu ri-me claro. mas o que é verdade é que, de vez em quando, surgem na minha vida mulheres com um filho.
mas, na verdade, isto é só uma constatação. estar em casa sem nada para fazer e com um blog para alimentar potencia-nos o delírio.
[já estive mais sã do que estou agora e admito que me sentia bem mais feliz]

alguém aqui veio dar com a pesquisa “deixa de ser sogra”.
wrong!!
o que eu preciso é de deixar de ser mãe.
como eu já aqui escrevi nem sei quando, é uma coisa que se entranha, tipo subcutânea e custa a sair pra caraças!
[escusai comentários do tipo eu adoro a minha mãe, é a melhor mãe do mundo, blá, blá, blá. eu também, ok? so what? isso cega-me? não!]

não está nem nos livros a quantidade de entulho que uma gaja guarda!
e deitar isso tudo fora? está bem, está!…

passados três anos e três dias, regressei.
a mulher que lá entrou já não tinha nada que ver com a que de lá saíra. por um lado a predisposição madura para abordar o conflito estava consolidada, o desespero do sofrimento fazia a minha cabeça parecer um tornado imenso e o coração um músculo atrofiado de dor.
bem verdade que sabia (sentia) que lá teria que voltar. para arrumar com uma série de questões, que não tinha tido coragem de verbalizar, de forma a tornar-me mais consistente com tudo aquilo que sou.
é indescritível o quanto me sinto crescer. o prazer imenso que é passar pelas situações e rapidamente ter capacidade para as analisar. ainda que nem sempre ponha em prática o que deve ser feito, nunca em momento nenhum deste meu verão de descontentamento me senti perdida sem saber o que fazer. mantive uma clarividência que às vezes até a mim espantava. sinto-me com um olhar que vê em largura mas também em maior profundidade. que antecipa. que perscruta.
que me faz sentir que há uma mulher excepcional a consolidar-se dentro de mim.
caracinhas! é tão bom fazer terapia!

ainda para descobrir porque é que me permito tanto mal.

continuo a recolher matéria-prima. infelizmente, o mestre de obras não trabalhou esta semana.

já comecei a fazer umas limpezas. o projecto alinhavado. isto vai.

habito-me numa casa que precisa de ser completamente remodelada.
fazer obras numa casa velha exije um projecto objectivo, capacidade de investimento e pouca pressa.
todo um caderno de encargos que, neste momento, se me afigura volumoso.
portanto, muito trabalhinho pela frente, muito lixo para deitar fora, muita coisa para reciclar, muitos calos que surgirão nas minhas mãos.
já tenho com que me entreter nos próximos tempos.

qual será o instrumento de medida de um grande amor?

a coisa mais importante, e a mais saborosa também, da terapia é a mudança.
não interessa nada a reflexão, a análise, a crítica, se não houver mudança.

caramba, tanta produtividade que vai nesta cabecinha, benzádeus!

esta noite sonhei que ía num avião e que ele teve problemas com um dos motores e começou a perder altitude.
quando dei por ela estávamos a sobrevoar uma praia, era noite e o piloto experimentou uma aterragem na água. mas a aterragem foi semelhante a um mergulho, com entrada dentro de água para posteriormente vir à tona e tudo ficar bem.
achei tudo estranho porque não houve aviso para nos sentarmos e apertarmos o cinto. como se o piloto não tivesse bem ideia das consequências e, não tendo, optou por não alarmar.
mas depois lembro-me de ter visto, já como observadora externa, o avião a aterrar na areia da praia. e eu, novamente, a achar estranha a velocidade que ele levava, porque havia muita gente deitada e não conseguia imaginar que eles tivessem tempo de fugir.
mas apesar de tudo nunca me senti angustiada. foi um sono sonho estranhamente calmo.

[ok, já matei, já sobrevivi a um desastre. agora, suponho, restam-me coisas boas para fazer, não?]

esta noite sonhei que um pássaro tinha entrado na minha varanda. era um piriquito, mas não desses pequeninos, mas sim um como eu tive em angola, como se fosse um papagaio mas do tamanho de um pombo. tinha as penas de cor escura, com umas poucas pintalgadas de cores vivas.
estava agarrado à parede e, quando o vi, a primeira coisa que pensei foi como teria entrado e o que tinha de fazer para o tirar dali.
não tenho particular apetência para mexer em pássaros. acho os pássaros muito bonitos, mas é para andarem por aí soltos. não gosto de lhes tocar, porque acho logo que me podem bicar ou desatar a dar às asas desenfreadamente e assustarem-me.
no momento seguinte do sonho, eu já tinha arranjado uma forma de o manter preso para lhe pegar e pô-lo na janela, para a criatura ir à sua vida que a mim só me estava a estorvar – tinha conseguido, não me lembro como, colocar-lhe sobre as asas uma argola, que ora me pareceu de arame ora um elástico, que o mantinha sossegado.
sentia uma coisa estranha, do tipo não quero isto aqui, mas quase sentindo alguma culpa por ir expulsá-lo da minha casa.
de seguida peguei nele, abri a janela e larguei-o. quando o larguei constatei que ele tinha as asas presas e não conseguiria voar. inicialmente eu achava que aquilo era elástico e da forma como estava colocado, seria fácil dele se desenvencilhar.
só me lembro de olhar para baixo e vê-lo a cair rapidamente, como se pesasse toneladas. e de me ter recolhido para dentro e fechar a janela no segundo imediatamente antes de o ver estatelar-se no chão e morrer.
fiquei ali a visualizar mentalmente o seu corpo inerte, as asas presas. não consegui confirmar o que tinha acontecido, mas sabia que fora assim.

[ok, matei. mas o quê? quem? foda-se, esta merda é tão difícil!]

e depois veio o gato e comeu o rato.

do que eu precisava mesmo era de me deixar morrer para depois renascer.
mas morrer em vida é uma coisa muito dolorosa.
não sei se tenho coragem para tal.
aliás, sei.
não tenho.

se quiser ser cínica, apetece-me responder a quem me diz, que essa merda de ser muito lúcida, muito assertiva, muito coerente, fantástica e esse cagalhão todo de coisas boas, valem-me uma ganda merda!
mas depois, penso nas pessoas que o dizem e não me faz sentido nenhum ofendê-las, porque é também por tudo isso que elas gostam de mim.
bem… por isso e porque eu tenho um sorriso encantador!

“quem olha para fora, sonha, quem olha para dentro, desperta.”
Carl Jung

acabadinho de ler no FB de uma amiga e a achar que, hoje, depois de mais uma visita à minha Rute, faz tanto sentido.
sim, achavam que quê? ía passar por esta provação só com a conversa das amigas, não? amigas é para dar colo, mimar e tudo isso que é bom! crescer, crescer a sério, só com espelho! [e, por acaso, só mesmo por acaso, não me ralo mesmo nada com opiniões discordantes! do momento em que não me façam perder tempo, pensem o que quiserem.]

como é que se faz?
por onde se começa?
o que valorizar primeiro?

se não desfiz por completo a mala, é porque ainda não voltei.
e se ainda não voltei… ainda não voltei.

o meu pai é maravilhoso!

[pena que não tenha deixado de me ver, ainda, como a sua criança. lamentavelmente, ou não, eu ainda não consegui trabalhar o suficiente para lhe mostrar outra coisa – e quererei? eis a grande questão! (que não me tira o sono, mas agita-me, confesso!) ]

a mudança interior é uma coisa que só está relacionada connosco e com o desconforto do nosso statu quo. é, portanto, uma coisa pessoalíssima.
querer encontrar motivações externas para a iniciar, é o mesmo que procurar legitimidade para o nosso insucesso – porque é bem verdade que, estando inspirados, arranjar desculpa para o que não conseguimos fazer é uma das maiores artes do ser humano.
para além disso, a mudança não se faz sem dor – às vezes, muita dor. portanto, quando alguém se propõem a mudar, é bom que esteja consciente da empreitada que vai iniciar. e se é isso mesmo que deseja. não é por nada em especial, mas é sempre bom evitar situações que nos provoquem frustração.

olha, Ana., numa caixinha comecei por arrumar a mãezinha e o pai (com preponderância para ela, como se pode observar na forma de tratamento), mais o seu sentido de protecção, que me tornou demasiado irresponsável – e não, não é no sentido de não assumir responsabilidades dos meus actos, que felizmente isso até ía conseguindo fazer, mas mais no sentido de não me propôr a responsabilidades (o que não é a mesma coisa).
noutra caixinha arrumei a impulsividade e as respostas primárias a estímulos – fossem eles verbais ou físicas. aprendi a ponderar as respostas e a desvalorizar os comportamentos alheios.
noutra caixinha meti o medo e a culpa. medo de estar sózinha, gerado pelo medo do compromisso (parece incongruente, mas não é) e culpa por sentir que nunca conseguia cumprir com o esperado.
e mais umas coisas, claro, mas isto não é receita para ninguém. até porque todos somos diferentes, não por uma originalidade exótica, mas tão somente porque vivemos e sentimos as coisas consoante a nossa experiência de vida. logo, ainda que tivéssemos feito o caminho lado a lado, certamente não seriam estas as tuas resoluções.

há cinco anos, por esta altura, vivia eu numa espiral de desacerto psicológico e emocional. [puta que pariu, que nunca me senti tão perdida, tão baralhada, tão frágil!]
hoje, tenho a certeza absoluta, que no matter what, jamais me encontrarei nesse estado. e, não, não aconteceu nenhum milagre, foi mesmo muito trabalhinho para arrumar a cabecinha. ide, ide, que vos fará muito bem!

… estamos no natal, não estamos na páscoa. e no natal não se crucifica ninguém. é, antes sim, tempo de boa vontade.
(embora, caneco, há coisas que me são muito difíceis.)

continuo a ver o mundo mais com olhos de filha, do que de mulher adulta e emancipada.
(a única vantagem é que consigo aperceber-me disso! – depois de já ter dito asneira, mas pronto!)

[algures haverá quem perceba isto. mas sinto-me um bocado sózinha neste sentir e o que me vale é a tremenda capacidade em me defender, gozando com a coisa.]

… não sei quando, mas hei-de voltar a fazer terapia. quando arranjar coragem para abordar coisas que não abordei anteriormente. não que me incomodem especialmente, mas para que olhe para elas com um olhar menos defendido e mais lúcido. melhor, para as verbalizar.

até que saíu uma coisa bonita!
a minha casa é o meu universo de afectos. aqui, que não me apeteceu copiar tudo!

El Rocío

é muito frequente, no torpor do adormecimento, lembrar-me de coisas fantásticas e construir posts na minha cabeça. sei que penso sempre, que chatice, se tivesse um portátil escrevia já. isto é uma coisa sem sentido, porque o portátil só é portátil, pode estar desligado e provavelmente demorará tanto tempo como o outro a arrancar. e o escritório é dois quartos a seguir, nem é assim tão longe.
na noite passada surgiu-me uma ideia muito interessante. não para um post, mas para um conto ou qualquer coisa do género. só que o estado de vigília traz consigo uma coisa, que quando estou já com a cabeça na almofada consigo quase eliminar: a censura, a defesa. e vai daí que hoje já pensei nisso, ainda consigo ter o esqueleto da ideia, mas já não tenho a poesia dentro de mim.
de qualquer modo, vou tomar notas numa folha. quem sabe…

cada vez tenho mais a sensação, que a minha vida se caracteriza da seguinte maneira:
– antes dos 40 e depois dos 40!
e que até aos 40 vivi tudo a que tinha direito de uma forma intensa, acelarada, numa busca desenfreada de experiências e conhecimento. arrogante na expressão, ligando muito pouco aos cacos que ía deixando cair. era demasiado confiante para temer.
em 2003, no ano em que fiz 40 anos, senti que o pote estava cheio. que precisava de unir uma série de pontas que iam ficando caídas e consolidar-me como pessoa. e decidi que era altura de fazer qualquer coisa mais assertiva, que projectasse o melhor que havia em mim, sem desperdício de tempo e emoções.
hoje, na essência, sou igual. só que mais tranquila, procurando não desperdiçar energias em causas perdidas e, principalmente, que façam muito ruído mas não produzam nada de proveitoso.
sou mais atenta, mais profunda, mais sentimental e consequentemente, mais emotiva – não fora eu caranguejo! há coisas que me tocam mais, mas também estou muito mais preparada para lidar com elas, para as desmontar e procurar, naquelas que magoam, que me doam o menos possível!
[e já me dou ao luxo de ouvir as minhas amigas dizerem que estou mais doce!]
não sei se estou melhor amiga, mas estou melhor filha e melhor companheira. consegui eliminar a parte negativa do meu individualismo, deixando só o que de bom existe para a preservação da minha auto estima, do meu equilíbrio.

lembrei-me disto, a propósito de um comentário de uma ex-colega que já está reformada. encontrei-a na terça-feira e dizia ela para outra senhora que também me conhece há imenso: ela está melhor que nunca! ao que a outra respondeu: melhor em todos os sentidos! acusei o toque, sabia bem ao que ela se referia, e disse-lhe: já não sou tão arisca, não é? e ela, com um imenso sorriso, ainda que meio a medo, disse-me: eu não arriscava chegar a tanto, mas sim é isso mesmo! tu não tinhas muita paciência para as velhotas, não é? e eu: sabe, a idade acalma-nos. e dei-lhe um abracinho.
[nunca tive paciência para velhos e crianças – isso daria uma grande dissertação, mas ainda é cedo, porque é uma das coisas na qual trabalho para melhorar – e para meu próprio bem, é bom que melhore mesmo, porque senão a coisa não fica fácil!]

e pronto, era isto.

está-me a acontecer uma coisa pela última vez, em virtude de parte de outra que vou fazer pela primeira vez.
ou será que vou fazer uma coisa pela primeira vez e como consequência disso acontece-me esta pela última vez? não. ai! as consequências só vêm depois. não podemos ter consequências de uma coisa que ainda não aconteceu… pois não? ai que estranho!

[tenho o café já frio. acho melhor ir bebê-lo!]

escadas de saÃda do museu do vaticano

o meu raciocínio está mais ou menos assim!
[e com tendência a agravamento, especialmente nos próximos três dias]
(não há previsões de abrandamento – talvez uma semana)

(ainda falta muito para o dia 6?)

apareceste inesperadamente. e eu, inconsciente, assustei-me mas senti-me mais humana.
não desististe dos teus intentos. e eu, paciente, esperei pelo desenrolar. talvez te cansasses e procurasses outro poiso.
mas a teimosia foi maior que a paciência. a mim, só me resta mandar-te embora. amadurecer a ideia e despedir-me de ti.
tranquilamente.

a menina Lover é uma grande cusca, é o que é!
e quer dar-me cabo da reputação, desafiando-me a abrir o livro dos meus defeitos. logo eu que sou só virtudes!! [Só Maria, já lhe roubei a pia da água benta!]
mas como uma mulher, temendo, deve enfrentar os medos, a isso se chama coragem, aqui vai:

– impetuosidade – a pensar e a falar. se pensar o único trabalho que me dá é reflectir (esta não tarda perde o c, não é?) para não cair no preconceito, já o falar é mais trabalhoso de se controlar.

– preguiça – este não é um defeito. é o defeito! porque tem repercussões em todos os aspectos da minha vida. faço um esforço tremendo para o combater, aqui e ali com algum sucesso. e é completamente absurdo que não me esforce mais, porque os resultados são sempre muito positivos. mas lá está, a preguiça… 

– dizer palavrões – nem sei muito bem como é que a coisa se processa. saem-me da boca pra fora em catadupa, e mal acabo de os dizer já estou lixada comigo.

– ausência de diplomacia – tenho imensa dificuldade em controlar o desagrado que as pessoas ou as situações me causam e não sei fazer conversa de circunstância (e o meu conhecimento das coisas práticas da vida é muit limitado, o que não ajuda).

– tenho alguma dificuldade em me comportar à mesa – falo com a boca cheia, como da faca, gesticulo com os talheres na mão, bebo sem limpar a boca, enfim, às vezes deve ser um bocado berinha de se ver.

agora que já acabei com o que ainda restava do clube de fãs de mil nove e troca o passo, deixa-me só passar isto a uma menina que precisa de um abanão.
I. minha buganvília linda, que tantas saudades tenho tuas, desfila aí o rol dos teus defeititos. são só cinco, não custa nada. só para ver se ainda te (re)conheço.

quando dou largas à fantasia e elevo os meus balões, gosto de os admirar. gosto que os admirem. a subir céu aberto, coloridos e cheios de si. fico assim meio alienada com a sensação.
depois, sinto um leve puxar na corda que os prende. e desço-os. e a seguir, é tudo tão melhor!

será efectivamente mais apaziguador, sentir que depois da morte continua a haver caminho?

hoje deixei os ouvidos e a boca em casa.
não quero ouvir. não quero falar.
vou megulhar no mar mais profundo que encontrar, e ficar por lá, em apneia total.
até que fique completamente sufocada de mim. e encontre o caminho de volta.

a ser verdade que os espíritos dos mortos andam por aí, será que eles nos vêem e ouvem?
fico um bocado preocupada, porque em casa, quando a maria não está, ando sempre a falar sózinha. 
e se, de repente, os pais dela andam por aqui, com que ideia hão-de ficar de mim?
pelo sim, pelo não, é melhor ter cuidado com as coisas que digo. ao menos, isso. sempre é mais fácil do que deixar de falar sózinha.

às vezes sou tão plástica, que mais pareço uma maria vai com as outras.
o problema é que as aparências iludem.

cheguei mais cedo do que o habitual.
está um calor atrofiante na sala de espera. a recepcionista é muito friorenta, pelos vistos.
à minha frente está uma rapariga com ar enfezado e doente. com ar enjoado. afundada no sofá, como se nas suas costas carregasse o mundo. será que já me terei sentado assim, aqui?
o pé direito abana ao ritmo da música, que vem mesmo a calhar “she’s a maniac, maniac”.
enquanto escrevo, sinto que me observa. o nosso olhar já se cruzou algumas vezes. hoje, particularmente, estou com um ar descontraído, feliz e confiante.
pergunto-me o que irá naquela cabeça de corpo magricela, enfezado. provavelmente, as mesmas perguntas que fará ao olhar-me.
(às vezes, é constrangedor o silêncio que se abate neste espaço, algo pequeno. as pessoas observam-se, como que procurando identificar algo nos outros, que as sossegue. que as torne mais iguais.)
ela levanta-se, pegando na carteira. ao dirigir-se à sala, sinto-a observar este caderno pelo canto do olho. enquanto caminha.
23.11.2004

há pouco, em conversa com a maria, tive uma tirada assim a modos que coiso… e, logo de seguida disse “eh pá, eu acho que com a idade estou a ficar bué de preconceituosa!”.
resposta imediata “tu queres é arranjar desculpa para ires fazer terapia…”.
ai, se fosse aqui, era já a seguir! só de me imaginar naquelas almofadas… era um festival de bater sornas! se com a rute, naquele sofá manhoso, às vezes já era um castigo… imagino ali!

[oh, que saudades de falar da minha rute! será que ela está boazinha?]

às vezes, fico cheia de vontade de voltar a fazer terapia.

está cheia de ossadas, sim. de todos os esqueletos que ainda não saíram, mal fora que com esta idade já os tivesse tirado a todos do armário, o que seria de mim o resto da vida? vegetaria? e sarapintas de sangue, também. mescladas com terra vermelha de áfrica, sangue dos joelhos feridos das quedas de infância, mais aquelas que dei na adolescência, que agora procuro cair menos, embora caia, claro que caio, mas menos, que as dores são directamente proporcionais aos anos que vamos vivendo.
e tem riachos fulgurantes de água. sem água não vivo. e a todos encaminho no mesmo sentido, que é o do prazer, que o hedonismo é a minha filosofia de vida.

[manchinha, sempre às ordens]

tenho um ribeiro que caminha suavemente, aqui e ali sobressalta-se com algumas pedras que encontra, lajes espalhadas que foram ficando, resquícios de outros tempos, em que tudo era menos lúcido e elaborado.
e tenho outro e outro e outro e outro.
encaminho-os para um lago.
quando ele estiver cheio, conto uma história. a minha.

a educação é uma coisa que se entranha em nós, como se nos fosse enfiado um chip subcutâneo que vai libertando condicionalismos. a alguns vamos conseguindo dar resolução. outros perduram, aqui e ali ficam mais ténues, mas não desaparecem de todo.

[tenho imensa dificuldade em fazer coisas que não me agradam, em estar com pessoas se não for de minha vontade e iniciativa. acho que atravesso uma fase extremamente anti-social. por ora, só quero que não me chateiem.]

assim, de repente (o que significa não pensar muito), estou mais gorda! 🙂 – nessa altura era uma magrelas sem piada nenhuma. não quer dizer que ache grande piada ao facto de estar mais gorda, não acho, mas fisicamente tenho uns atributos mais relevantes: cu e mamas. convenhamos que dão sempre jeito, não vá isto ficar realmente bera e precisar de fazer umas acrobacias no varão.
estou menos filhinha e mais filha – e o que isso me custou, deuses! tive de me parir e asseguro-vos que não é nada fácil.
sou mais exigente nas minhas relações de amizade.
conheci, finalmente, o comprometimento. investi imenso na aprendizagem da partilha diária. centrei-me no que é essencial, e releguei o acessório para uma zona que serve para me rir de mim e comigo.
alterei as minhas rotinas diárias e semanais. tive de aprender a lidar com a ausência de pressão, o que foi uma das coisas mais difíceis de conseguir.
e, acima de tudo, ao fim de quatro anos sou uma mulher mais feliz e mais completa do que era.

faz hoje quatro anos, comecei esta aventura que se chama mEiA vOlTa e… aqui.

peguem na revista sábado e abram na página 44.
depois, de cabeça bem arejada, leiam a entrevista à drª Isabel Empis.
se não fosse tão preguiçosa, até a transcrevia para aqui. está lá tudo, de uma forma tão simples.

quando dizemos que alguém fez emergir o pior que havia em nós, estamos quase sempre a tentar atirar a responsabilidade da coisa para o outro.
como se em nós só houvesse o lado bom… essa, só para rir!

ainda é muito cedo, e não tarda, é demasiado tarde.

(se eu acreditasse que ainda hei-de cá voltar, diria que nesta vida me andei a preparar para na próxima, sim, ser mãe. como não acredito, resumo tudo às circunstâncias que eu não soube conjugar)

tivera eu tido mais necessidades e seria excelente!
assim, quedo-me pelo bonzito. pontualmente.
no mais dos casos, sou banal.

uma das coisas incontornáveis em nós, raparigas alegres, é que não evitamos de procurar a mãe na mulher amada, e ao mesmo tempo, sermos a mãezinha da mulher amada.
(nas outras, que são contentes mas não alegres, é o paizinho que se busca, e tal e disso já todos ouvimos falar, mas penso que também não deixam de ser mãezinhas para os homens que lhes caçam o coração.)
isto é do pior que nos pode acontecer – não tarda a relação fica uma coisa intragável de se viver, e pior ainda de se assistir! e não se trata do cuidado e do carinho que se dispensam a quem amamos – é daquela atitude proteccionista que abafa e desobriga: e uma pessoa desobrigada é muito mau.
com trabalho de cabeça a coisa compõe-se. dá uma ajuda imensa que a companheira tenha a cabeça arrumada e não esteja para se prestar ao papel, independentemente do seu desejo de um dia vir a ser mãe. mas mãe de uma criança, não de uma adulta com quem se deita e faz coisas libidinosas e tal e coiso! (ou será e coiso e tal?)
eu, quando conheci a maria, levei logo com uma tratamento de choque: uma ocasião em que por estar com fome ou o raio, comecei a imbicar com uma coisa, e ela prontamente me respondeu “eu não sou tua mãe!”. se imaginassem o quanto aquilo me irritou!! (ela tinha razão, mas eu não estava nem para aí virada para perceber!)
o que sei é que um dos segredos do nosso sucesso (pareço uma celebridade e falar, eheheheh) é que a minha maria recusa-se terminantemente a fazer o papel de mãezinha.

ah… o inverso seria impossível. para além de tudo, eu sou filha única. dificilmente faria o papel de mãe, ainda que a maria mo permitisse – coisa que eu duvido!

de vez em quando dou uma volta pelos meus posts antigos, ou melhor ainda, pelo meu mEiA vOlTa antigo, a recordar o caminho que já percorri. isso deixa-me sempre (diria que quase 95% sempre) bem disposta. porque já estou tão diferente no modo, até no conteúdo. era tão básicazita, meu deus! e era feliz, acreditem. mas básica. faltava-me tanta coisa…
dos meus posts preferidos, os que se referem à terapia estão no topo. divirto-me bué ao lê-los. mas divertido, divertido, é a gente quando lá anda há um mês, começar logo a achar que aquilo tudo já está a fazer um efeito do caraças e que já mudámos bué de coisas!
oh santa inocência!!!

reparei agora que, no espaço de meia dúzia de posts, utilizei a expressão “ficar a matar” duas vezes.
serei uma psicopata camuflada?
(logo agora que já tinha pensado em deixar a minha rute, aparece-me esta dúvida existencial!!!)

f1020004a.jpg

quando era criança
vivi, sem saber,
só para hoje ter
aquela lembrança
(…)

(fernando pessoa – cancioneiro)

“The stars say it’s time to get a start on your spiritual quest. What are the big questions weighing on your soul? What could you do to try and get some answers — or at least get started on the path?”

já comecei a tratar disso há três anos!! e já estou no fim!

acabei de receber um telefonema que me deixou extremamente feliz. por isso…

há uns três anos, escrevi um post com uma música da simone, que rezava “que venha essa nova mulher de dentro de mim”.

pois bem, ela já chegou. há algum tempo. mas agora, está completamente consolidada!
(os meus agradecimentos a quem tentou testar os meus níveis de razoabilidade – eles andaram meios perdidos, mas deram de si! foi mera perda de tempo!)

“quero ser assim, senhora das minhas vontades e dona de mim”

quando não deixo cair, gosto de saber as opiniões negativas. não para me conhecer melhor, que eu para mim já não tenho segredos. mas para conhecer quem está do outro lado.

às vezes cogito sobre o que as pessoas pensarão de mim.
depois, pego num jornal desportivo, e deixo cair.

– aos meus pais, que apesar do tanto que me estragaram, me deram suficiente amor para não me tornar numa pobre insegura;
– e à terapia que me ajudou a consolidar todos os pontinhos da minha vida

isto não vem a propósito de nada! nem é um dia especial. é só porque ando tão fartinha de gente insegura, cheia de probleminhas de merda, mesquinhas, que não há CÚ!
ouviram? é que não há CÚ que aguente!

xô! xô! xô!

… have got no rhythm – canta pr’ali na rádio o jorge miguel.

com culpa, não são só os pés que não têm ritmo. nada tem ritmo.
a culpa é das piores coisas que se podem sentir. porque, para além de nos deixar completamente amarrotadas, é completamente nociva. antes fosse estéril – não criava. mas cria. cria um dívida que, vamos a ver, não sabemos como se gerou nem como a podemos saldar.
janela fora com ela! e vida fora, com quem no-la faz sentir.
eu, cá, agarrei nela e transformei-a em adubo.
só vos digo, tenho tido dos jardins mais floridos, que jamais houvera imaginado poder possuir. no meio desses jardins, a flor mais valiosa: a minha Maria.

correio

meiavolta(at)gmail(dot)com

fotografias

todas as fotografias aqui reproduzidas são da autoria de ©Anabela Brito Mendes, excepto se forem identificadas.

acordo ortográfico

não sei como se faz e nem quero saber!

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