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cheguei mais cedo do que o habitual.
está um calor atrofiante na sala de espera. a recepcionista é muito friorenta, pelos vistos.
à minha frente está uma rapariga com ar enfezado e doente. com ar enjoado. afundada no sofá, como se nas suas costas carregasse o mundo. será que já me terei sentado assim, aqui?
o pé direito abana ao ritmo da música, que vem mesmo a calhar “she’s a maniac, maniac”.
enquanto escrevo, sinto que me observa. o nosso olhar já se cruzou algumas vezes. hoje, particularmente, estou com um ar descontraído, feliz e confiante.
pergunto-me o que irá naquela cabeça de corpo magricela, enfezado. provavelmente, as mesmas perguntas que fará ao olhar-me.
(às vezes, é constrangedor o silêncio que se abate neste espaço, algo pequeno. as pessoas observam-se, como que procurando identificar algo nos outros, que as sossegue. que as torne mais iguais.)
ela levanta-se, pegando na carteira. ao dirigir-se à sala, sinto-a observar este caderno pelo canto do olho. enquanto caminha.
23.11.2004
grande parte das minhas amigas [e menos amigas também] são da opinião de que eu estou muito diferente – mais tranquila, mais tolerante, menos refilona. e quando fazem essa análise, reportam sempre para os três anos e picos que eu estou com a maria.
é tudo verdade. não contesto uma vírgula. é demasiado importante o seu papel na minha vida. sei-o melhor do que ninguém. sinto-o. e dou-lhe alimento.
mas eu, que fiz este caminho por dentro, sei muito bem, e mal seria se não tivesse disso consciência [teria andado a desperdiçar tempo e dinheiro], que a grande razão para isso se chama terapia.
o facto de estar com a maria, ajudou a materializar a coisa – pelo que de mim exige.
entretanto, como a inspiração está tão fraca, entretive-me a mudar a foto do cabeçalho – quando tirei aquela fotografia, estávamos tão no início, minha querida!
cheguei no inverno. vestida de azul escuro.
saí no verão. vestida de branco – branco de paz e harmonia. era o que procurava. encontro e harmonia comigo.
as estações e a cor da roupa são coincidências – se é que as há no nosso inconsciente.
um pouco mais de cem horas a falar. assim dito, talvez pareça pouco. nem chega a cinco dias… mas o tempo em terapia revela-se muito relativo. vale o que vale. depende de nós.
e essa foi (e é) a parte mais interessante da coisa: fazermos um trabalho para nós, que só depende de nós. exclusivamente. é fantástico.
da rute, guardo a lembrança de uma companheira de jornada. que sabe tanto de mim e eu quase nada, dela. é muito provável que não nos voltemos a ver. ou não. mas fica a certeza que ela será uma pessoa inesquecível na minha vida.
ontem, pela primeira vez e ao despedir-me, dei-lhe dois beijos. eu que sou tão afectuosa, com ela nunca consegui ter essa aproximação – apesar do tanto que lhe desvendei de mim. há coisas intrigantes.
só me faltou dizer-lhe, à boa moda dos meus patrícios,
fui, yah?
terei eu (uma palavra qualquer que não me ocorre, oh que porra!) para te deixar?
(como é que esta coisa se faz?)
há uns três anos, escrevi um post com uma música da simone, que rezava “que venha essa nova mulher de dentro de mim”.
pois bem, ela já chegou. há algum tempo. mas agora, está completamente consolidada!
(os meus agradecimentos a quem tentou testar os meus níveis de razoabilidade – eles andaram meios perdidos, mas deram de si! foi mera perda de tempo!)
“quero ser assim, senhora das minhas vontades e dona de mim”
oh prima!!!
!aihlocse ue euq megami a atse are, regreB epmaL a rafins a essadna es
no outro dia, a propósito do mesmo, sempre do mesmo, disse-lhe “os casais que têm só um filho haviam de pagar imposto!”. porque é mesmo o que eu penso. é uma trabalheira, depois, para nós filhos únicos, resolvermos todas as merdas que nos ficam no sotão – e a porra das ligações afectivas e o raio que parta! adiante!
a boa da minha rute, que não se desarma com nada do que eu diga, tem sempre a resposta afiadinha. e vai daí que me atira logo com esta “e os que não têm filhos, também!”
está certo, minha querida. eu encaixo. tantas horas de dedicação e é assim que retribui!
ah pois é… já nem me lembrava!
a malta para evitar a dor, agarra-se a qualquer coisita que brilhe.
pouco resolve, mas alegra – e o que eu quero são alegrias! (eu e toda a gente, claro, que não sou nada original nestas coisas)
dia do pai.
excelente, hem, rute?
das duas, uma: ou acabo com isto, ou então tenho de me preparar para voltar a trabalhar a sério!
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