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não raras vezes me acontece, assim sem saber muito bem como e nos momentos mais inesperados.
acontece-me ter a leve sensação, leve como um pedaço de espuma que se desfaz em contacto com o solo – ou como se um pedaço de filme em três dimensões me fosse trazido de surpresa, mas num décimo de segundo logo se fosse.
sinto, nesse décimo de segundo – talvez seja mais e para mim se assemelhe a coisa tão fugaz – sinto o cheiro a sopas ricas de legumes, a azáfama da feira, o acolhimento das pessoas amigas dos meus pais, o total desconhecimento do que seria o meu futuro a curto prazo, nesse histórico verão de 1975.
às vezes também sinto o cheiro do sotão repleto de maçãs bravo esmofo que o avô Mário nos deu. no sotão de casa emprestada, mais uma vez por pessoas amigas.
era tudo tão novo e a felicidade ingénua era tão evidente.
há uma fase do deixar que aconteça e outra do fazer acontecer.
pergunto eu:
e como raio é que uma pessoa sabe em qual delas se deve posicionar?
… mas procuro a redenção.
“perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação…”
em 2014 quero ser melhor. eu sei que o caminho é difícil, mas só há esse mesmo.

julho 13

setembro 13

dezembro 13
obrigada por me teres dado força para não desistir. obrigada por todas as pedras que encontrei no meu caminho, nestes últimos dois anos. fizeram-me parar, obrigaram-me a reflectir e a decidir que uma parte do meu caminho teria que ser indubitavelmente trilhada sozinha. sofri como ainda não tinha sofrido e, naturalmente, não tinha crescido. reaprendi a tomar conta das minhas coisas, melhor do que antes. e, finalmente, virei-me para dentro, reclamando agora a atenção e o cuidado que sempre pus nos outros. deixei projectos que tinha e assumi outros. corri alguns riscos, mas senti que haveria de ser recompensada.
e fui. como uma legitimação da minha escolha.
e, pela primeira vez na minha vida, senti que precisava de agradecer de forma mais reverente. que deveria entregar a felicidade que estava a sentir, mais pela legitimação do que propriamente pelo significado da recompensa. e fui.
entrei, ajoelhei-me e tentei de forma arcaica comunicar. em silêncio, de cabeça baixa, olhos fechados. ao fundo ouvia-se as palavras da missa. e agradeci. como pude e consegui. e comecei a ouvir o blowing in the wind a sair do orgão. senti que tinha sido entregue a minha mensagem.
voltei a casa. senti a casa. fui às raízes. raízes do campo. de mãos calejadas pela enxada, de pele crestada, de fruta cheirosa, apanha da azeitona e panela de ferro na lareira.
no silêncio que atravessava o mato por cortar e no cheiro do abandono da casa, a minha história atravessou-me o pensamento. a adolescência, as tardes deitada na manta debaixo dos pinheiros a ouvir o “rock em stock”, quando o que me apetecia era andar a curtir os amigos e os pais me levavam para “a Rocha”. assim era chamado o lugar dos meus avós. o meu avô era o Mário da Rocha, embora fosse outro o seu apelido. e rocha ia-lhe tão bem. homem forte, íntegro e de convicções. que as passou todas à sua filha mais querida, a minha mãe.
e eu, ali, a tentar absorver alguma dessa firmeza, dar sentido ao que de rocha trago em mim. abrir o peito ao cheiro, inspirar fortemente e decidir assumir a renovação.
(sinto-me uma mulher diferente. como costumo dizer, aos 50 estará tudo consolidado. e reconciliado, também.)
Your grandiose thinking about a job-related project can put you in the spotlight today, but be ready to scale back your big plans if you meet too much resistance. It isn’t worth depleting your energy to fight against a battle that cannot be won. Nevertheless, this is not about surrendering your dreams. Your current task is to create a path based on compromise without negotiating away your ideals. A solid solution may seem elusive, but persistence will, at least, move you in the right direction.
[voltei ao futebol. seis anos e tal após. durante esse tempo, jamais equacionei o regresso. à semelhança do que tinha sentido quando deixei de jogar, nada havia que me motivasse. achava que tinha concluído mais uma fase da minha vida e que me virava para viver coisas nunca antes vividas. e vivi-as. não consigo encontrar grande explicação para o regresso. foi assim, de repente, numa tarde de sol, há menos de uma semana. cá dentro do meu peito qualquer coisa se pôs em marcha. senti mãos invisíveis a puxarem-me. vozes inaudíveis a sussurrarem-me as palavras, os discursos, os incentivos, as zangas. o meu coração a transbordar de partilha não partilhada. e foi num segundo que decidi, tendo consciência que me aceitariam, obviamente. na verdade, não é bem a coisa do futebol que me fascina. não é a bola a rolar. não é o jogo, embora goste de o observar. o que me fascina é a dimensão humana que por ali anda. as diferentes pessoas. o seu comportamento. os laços que se estabelecem. as gargalhadas que se dão. as lágrimas que se contêm. a fragilidade que se suporta. a emoção. o afecto. eu devia ter tido filhos!]
as coisas boas acontecem quando nos predispomos a fazê-las acontecer. é um chavão gasto, eu sei, mas é tão verdadeiro que me apetece deixá-lo aqui para mais tarde recordar.
em vez de esperar acontecer, partir à reconquista (fazer acontecer) para além de mais produtivo é mais saboroso.
ontem tive um final de dia muito bom. mesmo à medida daquilo que falei na terapia.
Sísifo*
Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, in Diário XIII
* Sísifo, personagem da mitologia grega, foi condenado por Zeus a empurrar uma pedra grande até ao cimo duma colina, que voltava a rolar colina abaixo, obrigando-o a recomeçar.
à procura de algo agradável para juntar a uma coisinha útil que tenho aqui.
o problema está quando não nos contentamos em simplesmente abanar a peneira de um lado para o outro. e dando uma ajudinha com a mão encontramos um vidro aguçado, no meio do cascalho, que nos fere.
[com a cozinha já arrumada, resolveu esticar-se no sofá da sala e fazer uma pequena sesta. estava-se bem ali naquela semi-penumbra, provocada pelos estores caídos por causa do sol. convidava a reflectir.
final de tarde de verão.
já tinha encaminhado os animais para o seu poiso. as galinhas, as mais teimosas, a fugirem cada uma para seu lado. atrás delas os pintainhos procuravam orientar-se.
ao longe a silhueta do pai que regressava do campo. ainda novo, mas já a servir-se da enxada para ajudar na ladeira íngreme que o levava a casa. na mão esquerda uma melancia pequenina aguardava o momento mágico.
‘olha o que te trouxe. é pequena mas já está madura.’
tudo nela é pai. excepto as artroses e a pele das costas das mãos. seca e envelhecida como a mãe.
e a sua filha, já igualzinha.]
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