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quando nos prestamos a ajudar alguém, deveríamos ter consciência de que o fazemos mais pelo apaziguar da nossa consciência e culpa, vá-se lá saber na maioria das vezes do quê, do que propriamente porque temos a certeza de que vamos de facto alterar-lhe a vida para melhor.
pegamos nas dores dos outros e em três penadas encontramos qualquer coisa que nos faz ressonância e já estamos qual vingador a tentar fazer justiça. na maioria das vezes nem paramos para raciocinar sobre o assunto. aquilo que inicialmente era uma empatia com o acontecimento, torna-se logo numa questão de certo ou errado. de culpado e vítima.
depois, algumas vezes, calha que quem se sentia muito desprotegido e tal, resolve as suas coisinhas e fica tudo muito bem.
e a malta sente-se com cara de parva. e reclama porque se envolveu, porque se preocupou, porque temeu.
tenho visto isso acontecer, recentemente, e acho espantoso como ainda há gente tão envolvida na vida dos outros, como se da sua própria se tratasse.
realmente, muito tempo livre entre mãos não faz bem a ninguém.
à procura do sentido que me faz levantar às seis e meia da manhã de um domingo para fazer seiscentos quilómetros e estar em trânsito durante cerca de catorze horas.
[i want to tell a blue sky and a green field]

inverter o sentido da utilização dos degraus: começar a subir.
[eu estava tão sossegadinha na minha vidinha, porque raio me havia de dar na cabeça voltar ao futebol??]
quando, da forma como fazemos as coisas, não resulta benefício algum para nós, talvez seja mais pertinente repensarmo-nos, do que continuarmos a atirar para os outros o insucesso da nossa estratégia.
é fácil? não! nada! nem fácil, nem rápido.
[tenho de perceber porque razão acho que tenho que ser a mãezinha de toda a gente…]
acabadinha de tomar o primeiro pequeno-almoço do ano, feito por mim, ou seja, é o primeiro pequeno-almoço do ano e coincide com o primeiro feito por mim, de beber uma caneca de café feito naquelas cafeteiras de alumínio que eu tanto gosto, sem me apetecer sequer pegar num cigarro, e dou por mim a pensar que este ano de 2012 vai ser um grande ano! vai mesmo!
assim espero que seja para toda a gente que por aqui passa!
ando naquela fase estúpida em que analiso tudo o que os outros dizem e toda a gente me irrita.
tirando isso, estamos bem!
[detesto falinhas mansas, sorrisos forçados, simpatias falsas. gente ansiosa. cobardes.]
isto pode ser arrasador, pode modificar o sentido que a nossa vida levava, pode querer dizer que nada mais voltará a ser igual, mas:
– a mudança, que nos é tão cara por vezes, pode causar nos outros um efeito que não era o que esperávamos. do mesmo modo que nem sempre a mudança, naqueles que nos são próximos, mantém o encanto que sentíamos por eles.
e, contra tudo isto, às vezes o mais sensato é deixar correr o tempo. e esperar que alguma coisa nos volte a juntar de novo.
[também tenho imensas saudades de rir contigo.]
às vezes fico com a sensação de que não vou conseguir crescer tanto quanto gostaria.
e isso provoca-me uma angústia que mói.
à procura em mim para o preencher.
[isto às vezes é muito difícil, chiça!]
circunstâncias inesperadas obrigam-nos a trabalhar os nossos recursos.
o que tinhamos como tranquilo é por vezes abalado.
e refazer o nosso caminho nem sempre é uma coisa pacífica. e até aceite por aqueles que nos rodeiam.
o inesperado obriga-nos a pensar e repensar. e traz-nos, na maioria das vezes, coisas diferentes. nem melhores, nem piores. só diferentes.
lidar com essa diferença e encontrar um novo rumo para a nossa vida é um desafio imenso. que precisamos de ter coragem de abraçar, porque nada acontece por acaso.
tenho alguma incapacidade para me fazer ouvir. talvez por isso tenha um blog, talvez por isso não discuta com quem não me entende.
nesta última semana, já tive dois episódios em que não consegui, de todo, que me ouvissem. sendo duas situações completamente diferentes, nem por isso me incomodaram menos. e, em ambas, tive que decidir qualquer coisa e decidi… adiando.
reflectindo sobre isso, penso que se por um lado tenho de aperfeiçoar a minha estratégia de comunicação, por outro tenho de assumir uma postura mais decidida.
porque nem sempre é possível optar por não dar importância às pessoas e retirar-me… quer dizer, possível é, mas ficam algumas coisas pelo caminho que também me dão bastante prazer.
por me ter sido concedida inteligência suficiente para não ser estupidamente orgulhosa!
a minha cabeça em profundo trabalho. tão difícil e tão lento.
(re)aprender a viver sózinha é uma tarefa!
principalmente, se ousarmos acrescentar o detalhe de aprendermos com os erros e fazermos algo de novo para nós. e por nós.
[se não tivermos a clarividência de procurar algo errado em nós, quando nos acontecem coisas inesperadas e menos boas, vamos continuar sujeitas a que elas voltem a acontecer. e não é fecharmo-nos numa concha. é perceber, encontrar caminhos e alterar. custa? ah pois custa. se custa.]
o pequeno troço entre Caxias e a curva dos pinheiros:
– o forte iluminado e reflectido nas águas calmas
– o farol do Bugio a fazer-se notar com a sua luz intermitente
– a lua, por metade, mas com uma luz suficientemente intensa para abrir uma estrada prateada no mar
– ao longe, barcos iluminados
[tive um fim de semana tão tranquilo. aos poucos, vou tendo tudo aquilo que faço por merecer de bom.]
um dia destes vou ter contigo, vou deitar a cabeça no teu colo e dizer-te tudo o que me vai no peito, garantindo-te que não te abandonarei. [tu dirias o mesmo e eu já me senti abandonada, como tu te sentes]
.
estavas tão bonita. tão incrivelmente disponível e jovem. tão lúcida e forte. sempre quis ser como tu, mas fui uma imitação muito aquém.
.
80 anos e tu tão ágil. tu dizes que não os sentes, eu digo que não os vejo. nem os teus 80, nem os meus 48.
.
podes esperar só mais um pouco?
talvez seja da ventania.
talvez nem tudo tenha que ser como eu idealizava. talvez não saibam encarar que não sou como me idealizam. esperava mais? sim esperava. que fosse mais efusivo, mais focado. mas voltamos sempre ao mesmo: afectos dispersos, que se notam, que se sentem, mas ao contrário do que sempre pensei, muito pouco concentrados em mim. [bendita seja a ignorância e a cegueira]
se me arrependo? não o posso dizer assim. não. era o que me apetecia, soube bem, mas soube a pouco.
penso ainda no que me está reservado. e encaro-o com bastante tranquilidade, embora saiba que aqui e ali me fará sofrer.
(sempre fui tão dócil…)
mas há um processo em curso que já não tem travão.
um dia hei-de ter uma relação sem quaisquer constrangimentos.
[provavelmente passado algum tempo ela acabará, que é da nossa natureza fartarmo-nos do estabelecido e confortável.]
a amargura é um sentimento que não tem benefício nenhum.
o tempo que gastamos a cultivá-lo, é mais do que um tempo perdido – é um tempo maléfico, que nos faz ressaltar o pior que existe em nós, que nos cega o horizonte, nos limita o pensamento, nos amarfanha como pessoas.
nem sempre a vida é feita de vitórias e glória. há momentos de perda, que nos abalam. perdas que, em consciência, pensamos não ter contribuído para elas acontecerem. mas o que nos faz seguir em frente é a elevação com que as encaramos, aceitando o inevitável e procurando um caminho objectivo que nos leve a superá-las.
procurar culpados, descarregar sobre eles a nossa fúria, alimentar ressentimentos, catalogar comportamentos, só serve para alimentar o mal. deveríamos ter mais em atenção aquilo que a história das pessoas, ao longo dos tempos, nos tem mostrado: mais cedo ou mais tarde toda a gente supera, perdoa ou resolve. às vezes isso só acontece em situações extremas, como é no caso de doenças, morte, etc, etc. mas, invariavelmente, o tempo esbate o lastro de amargura que carregamos. por isso, porque não atacá-la logo que surge? porquê alimentarmos uma coisa que é como um vírus que se espalha por nós e marca toda a nossa vida futura?
[encontrar nos outros o motivo pelo qual nem sempre a vida nos corre bem, para além de uma desresponsabilização total, é assumirmos que somos completamente incompetentes quanto ao rumo do nosso destino. o que se revela uma tristeza…]

muitas vezes, desistir é mais um sinal de bom senso do que uma mostra de fraqueza.
ligou-me a mãe e depois o pai.
eu, não tarda, a fazer 48 anos.
não tem problema nenhum eles ainda me verem como a sua criança.
o problema foi eu ter aceitado, por tanto tempo, sê-lo.
dia um de junho.
dia da criança.
dia de terapia.
et voilá!
… não fora eu estar tão bem disposta!
durmo perto de oito horas. não ando, portanto, com défice de descanso.
acordo quando a claridade do dia me bate na cara e, nessa altura, estaria fresca para me levantar. mas, talvez pense assim porque sei que ainda posso ficar mais tempo na cama.
quando o despertador toca (na figura de um nokia n97, com o ecrã táctil todo riscado por uma lima das unhas, durante a minha viagem aos states), só me apetece pegar nele e atirá-lo contra a parede. e dizer ao mundo “olha, trabalha tu, que a mim não me apetece”!
[a mim o que me vale é que, de tanta gente tola e incapacitada intelectualmente que por aí anda, calham-me só pessoas espectaculares. até os colegas de trabalho são os mais solidários e divertidos que existem no mercado. por isso é que o nokia vai sobrevivendo…]
… e começo uma outra semana.
segunda-feira. é manhã e está cinzento.
é tarde e está de chuva.
enfio-me no carro sem me ligar ao mundo. penso que tem mudanças automáticas, quando na realidade tem mudanças automáticas.
braços caídos nas portas. anda um desalento no ar.
cansaço nem se sabe do quê. nem para quê –
o que é substancialmente pior.
para nada.
nada.
uma bóia que nos salve de afundar.
sinto-me a precisar de coisas que já não tenho. não sei se por desespero, se por convicção.
e de outras que ainda não tenho.
coragem. um refúgio silencioso, isolado.
sem palavras.
amanhã já será terça-feira.
para quem lá chegar, estará de chuva novamente?
já aqui escrevi que o dia 14 de maio foi um dia importante e inesquecível para mim. intenso, cheio. que exigiu de mim uma dedicação e concentração máximas e me deu, na mesma medida, emoções jamais vividas anteriormente.
mas o momento mais significativo, aquele que mais me preencheu interiormente e maior paz me trouxe foi o seguinte:
regressámos ao clube no autocarro que nos tinha levado, com os mesmos batedores a abrirem caminho.
na minha cabeça só estava o momento em que pudesse estar só. para assentar todas as emoções.
peguei na mochila com a roupa que tinha levado para trocar e dirigi-me às instalações. antes, parei e sentei-me a apanhar sol e a fumar um cigarro. o primeiro momento de relaxe. chegou uma das jogadoras e convidei-a a fazer-me companhia. ali estive uns quinze minutos, até que decidi entrar.
fui para a cabine dos árbitros (não escolhi propositadamente um balneário de equipa), acabada de lavar para o jogo do dia seguinte, e pousei a mochila. lentamente fui tirando a roupa: as calças de ganga, um top, cuecas, soutien, meias e ténis. depois o que precisava para um banho revigorante. apercebi-me de que me tinha esquecido do gel. telefonei a uma das jogadoras que ainda por lá andava a pedir-lhe que me emprestasse o seu. depois dela mo trazer, voltei a fechar a porta e comecei a tirar a pele da dirigente. as sandálias, primeiro, depois a saia preta e a camisa branca. tomei um duche com água ligeiramente fria, que me soube imensamente bem. despachei-me calmamente, fiz tudo em modo muito lento. procurei recuperar energia e consegui-o.
tive naquele momento a sós, a sensação mais reconfortante do dia. na necessidade imperiosa que senti de estar sozinha, confirmei que é fundamental não ignorarmos que devemos ser sempre a nossa prioridade.
… que me sinto tão angustiada e não sei porquê!!!
… um pouco de normalidade na minha vida!
jamais conseguiria referir-me a alguém, com quem tivesse tido um relacionamento entretanto terminado, como “a minha ex”, do mesmo modo que jamais aceitaria que alguém me dissesse “a tua ex”.
se temos respeito por nós, pelo que vivemos, pelo que sentimos, nunca as pessoas poderão deixar de ter nomes.
a ser verdade que a vida se faz em ciclos de sete anos… eu, burra como sou, daqui a sete anos andarei ainda a aprender qualquer coisa, que me dava jeito saber agora!
sentada a fumar um cigarro, com esta paisagem por fundo, dei por mim a pensar que aquilo que às vezes nos parece uma tremenda coragem, pode signficar tão somente o não se ter nada a perder.
[há trinta anos, um amigo meu, ébrio, atravessou parte desta ponte em cima do corrimão. corajoso? inconsciente? ou apaixonado?]
Cancer, Monday, 18 April 2011
There’s no need to wait for anything or anyone. What you’re waiting for is waiting for you. There’s no need to ask for anything… or to persuade anyone about any particular matter. What you require is on offer. What you hope to communicate is already understood… and appreciated too. If it seems, to you, as if there’s tension, it can only be because you’re looking at a situation with suspicious eyes when you ought to be more trusting… or because you’re remembering a difficult past when you should be envisaging a delightful future.
[faz-me algum sentido… thank u!]
[nocturno]
agitação permanente. calor, imenso calor. destapo-me, arrefeço. tapo-me e deixo os pés de fora. acordo mal disposta. o pescoço a queixar-se. a almofada anatómica virada ao contrário para fazer efeito… nenhum! despertadores a tocar e um cansaço que me derruba. quem dorme na minha cama e tenta sonhar meus sonhos? (*)
[manhã de azul]
mar chão. espreguiço-me. o vento mal bulia e o céu o mar prolongava. (*) reúno vontades para seguir caminho. resisto à tentação de ficar a boiar o pensamento. azul. azul. azul. busca. se um olhar de novo brilho, no meu olhar se enlaçasse. (*)
começar a manhã a ouvir fado é muito bom.
no entanto, questiono-me: como seriam os nocturnos de Bach, Chopin, Mozart? assim agitados?
bem, dixam apertabo na nha peito, um tem sodadis di bô
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar,
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.
[Os Colombos – Fernando Pessoa in Mensagem]

pegar nos nossos preconceitos e confrontá-los com as vivências dos que nos rodeiam é uma belíssima forma de alargarmos horizontes.
e com este tempo magnífico de sol e calor, alargar horizontes é um prazer imenso.
por exemplo, eu não me importava nada de ir alargar horizontes com um gin tónico depois das seis.
… acho que, verdadeiramente, nunca escolhi. antes aceitei o que me agradava mais.
mas um dia, acredito, hei-de fazê-lo.
(ainda que isso signifique que não tenha correspondência, me assuste, mas sinto-o uma coisa quase inevitável de acontecer neste caminho.)
apesar dos pesares, continuo a pensar que a generosidade nos traz mais benefícios que prejuízos.
questiono-me permanentemente sobre onde termina a generosidade e começa a necessidade de agradar, que decorre da baixa auto-estima. este é um ponto difícil de analisar e é preciso ter-se bastante conhecimento interior para não se confundir as duas. saber que uma sai do coração espontaneamente e a outra sai-nos o coração todo.
ainda com essas dúvidas, mantenho que é importante ser generosa. ter cuidado com as pessoas, principalmente quando estamos em fase de euforia e achamos que somos capazes de tudo e que nada nos interessa. quanto melhor tratarmos os outros quando eles menos nos importam, maior será a probabilidade de eles ultrapassarem as nossas infâmias quando nos julgamos donas do mundo. e por muito que em determinadas alturas não o consigamos ver, é muito importante ter uma almofada em tempos de borrasca.
[tenho o verniz todo lascado. puta de vida!]
quando é que se perde?
um dia escreverei sobre bonecas embrulhadas cuidadosamente em celofane e brinquedos que não se podiam estragar.
e diz o ditado que burro velho não aprende línguas.
estou bem lixadita!
sol. praia. passeios. risos. casa. partilha. falar ao ouvido. dormir a sesta. pequeno-almoço na cama. jantares tardios. televisão. viagens. lista de compras. preocupações. família alargada. compromissos aborrecidos. festas de aniversário. natal. férias. rotina.
… terei.
não se diminui com a nossa presença. não se substitui com abraços. não se faz desaparecer com a ponta dos cigarros fumados compulsivamente no adro da capela. nem com as refeições fast-foof partilhadas à pressa.
acredito que nada diminua a dor. o vazio interior da perda.
mas, acredito muito que passar por esses momentos acompanhada, baliza um pouco a sensação de desintegração emocional que se sente.
também acredito que por muito que as pessoas não se vejam de forma frequente, se tenha deixado até de partilhar coisas mais íntimas, nesses momentos é que se consegue perceber o quão importantes foram as vivências do passado. nas pessoas que se fazem presentes, que dedicam um pouco do seu tempo a ir dar um abraço, a ficar.
também acredito que pessoas de bom senso resguardam-se de dizer disparates a quem está no luto. têm noção do momento da coisa e adiam o que houver de confronto para outra altura.
isto para dizer que tenho amigas que, apesar de não muito próximas no dia a dia, sabem estar nesses momentos. e isso deixa-me uma sensação de conforto muito grande.
já está em paz. foi um prazer conhecê-la, tia Judite!
mãe querida, mãe querida
o melhor que a gente tem
não há coisa mais retorcida
do que o amor de mãe
em competição aplica-se muitas vezes a expressão “o que interessa é como se acaba e não como se começa”. porque há objectivos que são definidos no e pelo tempo.
já na vida não sei se isso será assim tão importante. acho que começar bem é sempre uma coisa boa. que projecta e ajuda a definir um trajecto.
mas como se termina é uma coisa que nos faz, muitas vezes, elaborar explicações, teorias, amarguras, mas que na verdade não interessa nada.
nem como se termina, nem porque se termina.
há um movimento interno que pode ser completamente autónomo e que nos diz: terminou. não fomos nós, sequer, que terminámos. sentimo-nos quase ofendidos pela sua independência. não temos a certeza de que seria o tempo certo. talvez, até, pensemos que ainda não era bem tempo para isso. ainda haveria algo que pudéssemos fazer, recompor, ajeitar. mas ele, o tal movimento autónomo, não sente piedade e assume-se e intala-se.
deixa-nos assim com uma sensação de impotência e de orfandade, até.
dói.
e estrebuchamos. revoltamo-nos.
no entanto, por muitos movimentos que possamos fazer, alguns desesperados, até, a coisa instalada não arreda.
aceitar é o único caminho que nos permite seguir em frente.
aceitar, principalmente, de que ao contrário do que todas as teorias de auto-ajuda possam indicar, nem tudo está sob o nosso controlo.
gostava de escrever sobre um sonho que tive há dias.
hoje entrei numa rotunda e tinha um acidente à minha frente. nada que me impedisse de prosseguir e ver as árvores do jardim do campo grande todas despidas de folhas.
e aqueles galhos despidos trouxeram-me à lembrança um campo cheio de folhas castanhas, caídas de plátanos que eu não vislumbrei, tantas folhas que faziam uma cama de altura ainda considerável. eu passava de carro e fiquei deslumbrada com a quantidade de folhas num sítio que me parecia familiar. e de como ainda não tinha reparado que aquilo ali estava. se calhar não estava. teriam caído todas de um dia para o outro? um dilúvio de folhas secas castanhas caídas num campo aberto sem plátanos.
gostaria de escrever sobre um sonho que tive há dias.
mas, para além de só me lembrar do campo coberto de folhas castanhas, caídas de plátanos que eu não vislumbrei, não tenho bem a certeza de que tenha sido um sonho, uma alucinação momentânea ou a pura da realidade.
a insegurança é uma merda fodida. que devasta. mina. é ardilosa.
a insegurança é uma merda fodida.
e quem nunca provou dela, que ouse levantar o braço.
na caixinha que tenho com as notas de coisas para emergir, bem que deveria lá estar uma a dizer ‘deixar de fumar’.
na volta seria das coisas mais rápidas de concretizar!
o que fizemos é directamente proporcional ao que não fizemos.
ambas as situações são dinâmicas. embora a segunda, escrita desta maneira, não o pareça.
em agosto escrevi um post que dizia isto: as pessoas têm liberdade para fazerem tudo o que desejam, inclusive a de assumir as consequências dos seus actos.
há pouco, quando fui fumar, ouvi uma conversa que me recordou esse post e o quanto me continua a fazer imenso sentido.
o que estava em causa quando escrevi isto, e em todas as vezes que o penso, é a mania que as pessoas têm de achar que, quando sabemos as consequências dos nossos erros, não deveríamos de errar. e dizem coisas como já não sei mais que lhe diga; já lhe fiz ver o que o seu comportamento pode provocar; etc, etc., numa atitude perfeitamente paternalista e altiva, de quem aconselha cobrando.
se há coisa que me fecunda, mesmo, é essa merda! essa altivez de se acharem: eu avisei… ai que fico possessa!
a liberdade é essa coisa: de fazermos o que queremos. se quiseremos foder tudo, fodemos, so what?
* a contabilidade invade-me os neurónios.
o novo ano, novinho, novinho, com poucas horas de vida.
só agora me dou conta do quão desejosa estava pelo virar desta página. tenho muito que fazer este ano. estou até algo ansiosa para começar, apesar de saber que já comecei.
não tenho tempo a perder com coisas, ou pessoas, que não me satisfaçam. estou naquele momento em que já saltámos, ainda não fizemos a recepção ao solo, mas já não dá para recuar – portanto, só se pode seguir em frente e escolher fazê-lo com o maior número de ganhos possível e que se manifestem de forma consolidada à la longue.
[a passagem do ano foi divertida. diferente. leve. e soube-me particularmente bem o champanhe e o charuto que fumei. acho que me vou tornar apreciadora de Montecristo n.5]
ao fim de alguns dias a subir escadas imensas, cheguei ao topo do edifício mais alto.
fui até à beira do precipício, naquele momento em que a vertigem começa a tomar conta de nós.
inclinei o corpo para a frente e deixei-me cair.
ainda ando na fase de ser arrastada pelo vento. momentos há em que raso esquinas de edifícios, outros levam-me a ver o mar. já quase fui manjar de gaivotas. de pombas.
depois de saborear o planar ao sabor do vento, vou aprender a voar.
custe o que custar, demore o tempo que demorar.
[eu, que sempre me senti tão corajosa, vi-me naquele dia tolhida de decisões. estava sentada numa pedra, à beira de um caminho que atravessava um vale. de um lado uma planície ainda verdejante, do outro um ribeiro onde a água corria acelerada, não sei bem como visto que a inclinação era inexistente. deitei-me para trás, ergui ligeiramente o pescoço apoiando no topo da nuca e fiquei a contemplar o futuro de pernas para o ar. desde então, nunca mais parei de ter problemas na cervical.]
eis que senão, um dia, as circunstâncias da vida todas se modificam, acordam como loucas e viram tudo do avesso.
tomam-se de uma confiança desmedida e varrem tudo o que lhes aparece pela frente.
como um tornado.
pelo ar voam cortinas japonesas, livros meio lidos, almofadas forradas de seda do oriente, lençóis de algodão branco, discos desmaquilhadores, canecas de porcelana, misturados com folhas das árvores que amarelecem prematuramente, anunciando um outono [que se faz anunciar] premente.
a dúvida?
na reconstrução, o que irá sair…
estão a ver aquele espacinho, que parece mínimo, entre a confiança que temos com determinada pessoa para lhe dizermos tudo o que nos vai na cabeça, coração, tripas, etc, etc, e o direito, que lhe é reservado, em não ser invadida na sua intimidade?
aquele espacinho, estão a ver, parece mínimo, mas existe.
[curioso, curioso, é interpretarem sinais onde eu não os dou, e retirarem-nos nas situações onde eles são mais evidentes!]
não correu como eu esperava, antes sim, como eu fiz acontecer.
e foi muito bom. e ainda há-de ser muito melhor.
há-de me sair das entranhas, fazer doer imenso, mas o caminho que me destinei vai acontecer!
(curiosamente, estive muito mais tolerante contigo, que tanto tenho trabalhado sobre ti.)
[tão bom, mas tão que me tenhas ligado com essa voz que me embalou, que me deu colo, que sorriu, leve, que me perguntou o que eu queria para almoço, leve, leve, leve. soube-me tão bem sentir a tua voz sem pressão, perguntando como estava mas sem esperar resposta que te agradasse, antes só saber como estou. não sei mais que te diga. tenho tanta dificuldade em te dizer coisas de mim. tenho tanta dificuldade em ser mulher junto a ti. só me vejo como a tua menina. mas deixa-me dizer outra vez, que o teu telefonema foi um bálsamo para este dia tão tumultuoso. gostaria de te falar sobre tudo isso, mas não sei se algum dia conseguirei.]
acabaram de me sugerir como presente de natal uma coisa que eu gostava muito, mas mesmo muito, de ter.
e eu não consegui aceitar.
e eu não sei se sou coerente,
se estúpida.
… é podar!
e eu estou particularmente tranquila.
[estive três horas no cabeleireiro. é o que dá serem amigas a porem-nos as mãos na cabeça. demora. muita conversa à mistura. um prazer dos diabos! e um corte bem mais curto do que estava à espera. mas pus-me a jeito.]
em ter a certeza se a experiência nos serve para alguma coisa. melhor, se a experiência me serve para alguma coisa.
na verdade, tudo é novo de cada vez que o experimentamos. melhor, tudo parece novo de cada vez que o experimento.
estou tão fartinha de mim, caraças!











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