o que fazer quando a vida nos traz, de repente, coisas das quais não estávamos à espera?

[prefiro dizer traz do que tira, porque para além de ser uma perspectiva mais construtiva, dando-nos assim um sopro de alento, é muito mais realista. tudo o que nos acontece é algo que nos é dado, não retirado. a dor que isso possa causar faz com que muitas vezes pensemos em perdas, 'quem quer falar de ganhos quando o coração estremece de tristeza e desalento?', mas a verdade é que são acréscimos.]

quando nos vira o sentido para outro lado que não aquele em que caminhávamos e estávamos seguras de que era por aí que estava correcto?
quando nos obriga a repensar o dia a dia, as rotinas, os caminhos, as decisões?

bem… não há assim muito por onde escolher. é seguir o caminho novo que nos aparece. aceitar e entregarmo-nos a ele.
na bagagem levamos a dor, o desalento, as marcas das olheiras, o ranho misturado com lágrimas, o hálito a tabaco fumado sofregamente, tudo o que faz parte desse estado e que temos direito a sentir, ainda que possam dizer que tudo vai passar e correr bem. há um tempo para berrarmos de choro, para nos sentirmos uma porcaria e mais, para não querermos que ninguém nos diga que tudo vai passar. esse tempo não é medido pelo calendário. dura o tempo que durar, que não há receitas para o luto.
mas, ainda que com toda essa bagagem que nos pesa horrores, é importante que sigamos o caminho. as costas podem estar, aqui e ali, um pouco vergadas, mas a cabeça tem de estar sempre no alto. para ver bem longe, distinguir objectivos, olhar no espelho e admirar.
sim, admirar.
admirarmo-nos.
é quase uma verdade de La Palisse, mas é mesmo a única verdade que temos: nós somos, com certeza, a única pessoa que sabemos que estará connosco até ao fim da vida.
por isso, quem não se admira profundamente, é favor de ir trabalhar isso.
porque, doutra forma, não anda cá a fazer nada.

e agora vou ali comprar umas coisinhas que me faltam para a minha viagem.
de sonho, para muitos.
[não era o que eu queria, mas é o que a vida me deu: um sobressalto fodido e uma viagem de sonho. poderei queixar-me? não.]