o que fazer quando a vida nos traz, de repente, coisas das quais não estávamos à espera?
[prefiro dizer traz do que tira, porque para além de ser uma perspectiva mais construtiva, dando-nos assim um sopro de alento, é muito mais realista. tudo o que nos acontece é algo que nos é dado, não retirado. a dor que isso possa causar faz com que muitas vezes pensemos em perdas, 'quem quer falar de ganhos quando o coração estremece de tristeza e desalento?', mas a verdade é que são acréscimos.]
quando nos vira o sentido para outro lado que não aquele em que caminhávamos e estávamos seguras de que era por aí que estava correcto?
quando nos obriga a repensar o dia a dia, as rotinas, os caminhos, as decisões?
bem… não há assim muito por onde escolher. é seguir o caminho novo que nos aparece. aceitar e entregarmo-nos a ele.
na bagagem levamos a dor, o desalento, as marcas das olheiras, o ranho misturado com lágrimas, o hálito a tabaco fumado sofregamente, tudo o que faz parte desse estado e que temos direito a sentir, ainda que possam dizer que tudo vai passar e correr bem. há um tempo para berrarmos de choro, para nos sentirmos uma porcaria e mais, para não querermos que ninguém nos diga que tudo vai passar. esse tempo não é medido pelo calendário. dura o tempo que durar, que não há receitas para o luto.
mas, ainda que com toda essa bagagem que nos pesa horrores, é importante que sigamos o caminho. as costas podem estar, aqui e ali, um pouco vergadas, mas a cabeça tem de estar sempre no alto. para ver bem longe, distinguir objectivos, olhar no espelho e admirar.
sim, admirar.
admirarmo-nos.
é quase uma verdade de La Palisse, mas é mesmo a única verdade que temos: nós somos, com certeza, a única pessoa que sabemos que estará connosco até ao fim da vida.
por isso, quem não se admira profundamente, é favor de ir trabalhar isso.
porque, doutra forma, não anda cá a fazer nada.
e agora vou ali comprar umas coisinhas que me faltam para a minha viagem.
de sonho, para muitos.
[não era o que eu queria, mas é o que a vida me deu: um sobressalto fodido e uma viagem de sonho. poderei queixar-me? não.]
15 comentários
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Sexta-feira, 13 Agosto, 2010 às 18:17
Sonia Mogueiro
Deep…
Não te vou dizer que vai passar, que será assim ou assado, apenas que vou estar aqui, com ranho, tabaco, ou gins à mistura, porque de uma coisa sei, a dor quando partilhada custa menos um bocadinho.
Sábado, 14 Agosto, 2010 às 11:52
Tatiana
Sabes, Ana, eu sinto-me assim… ler-te fez-me pensar que o melhor é mesmo tentar tentar levantar a cabeça e seguir em frente (mesmo que durante o percurso tenhamos necessidade de fumar que nem cavalos). Nunca duvidei de uma coisa que tu disseste no post: “nós somos, com certeza, a única pessoa que sabemos que estará connosco até ao fim da vida.” Isto é tão verdade que, mediante uma perda importante, há que relembrar vezes sem conta… Obrigado pelas tuas palavras, ajudaram-me a encarar mais um dia de vida.
Sábado, 14 Agosto, 2010 às 11:55
C
Não fazer nada, aprender, seguir em frente (com muletas)
quanto a “única verdade”…gostava de acreditar que não…
Bom blog. Obrigada.
Beijinho e boa viagem (de sonho sem dúvida…inveja :P)
Sábado, 14 Agosto, 2010 às 16:09
aNa
Sónia, minha querida, como é bom saber-te por aí! 🙂
Tatiana, estamos cá também para isso: para partilhar coisas q possam fazer sentido aos outros! 😉
C, acreditar é outra coisa. Eu também desejo não estar sózinha, mas sei q isso poderá näo ser possível.
Vou tentar aproveitar ao máximo a viagem, em honra de quem gostaria e neste momento não pode. 🙂
Domingo, 15 Agosto, 2010 às 12:47
sem-se-ver
(caraças, ando tão triste com o que te aconteceu. vá, uma boa viagem de sonho, fotografa muito para depois pores aqui, como costumas fazer. :- )
Sábado, 21 Agosto, 2010 às 17:42
K
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
Sábado, 21 Agosto, 2010 às 17:43
K
O poema é de António Ramos Rosa. O beijo é meu:)
Sábado, 21 Agosto, 2010 às 17:44
K
O poema é de António Ramos Rosa.
O beijo é meu:)
Terça-feira, 7 Setembro, 2010 às 00:16
Inês
Há um tempo que não passava aqui…e, assim meio sem perceber, parece-me apenas que precisas de força e cá fica um beijo meu a dar uma forcinha 🙂
Terça-feira, 7 Setembro, 2010 às 09:06
aNa
pois, Inês, há algum tempo sim. mas tb é natural, isto andava meio morto! 😉
obrigada.
Terça-feira, 7 Setembro, 2010 às 08:58
registada
As voltas que a vida dá são surpreendentes.
Hang in there!
Terça-feira, 7 Setembro, 2010 às 09:07
aNa
olha, miúda, fico tão contente por te ‘rever’!
vou já guardar o teu mail, para te escrever, que tenho de saber como é que estás.
beijinho.
Segunda-feira, 11 Junho, 2012 às 02:56
Inês
Hoje voltei aqui (a este post, pq ao blog nunca deixei de vir ;)) e é impressionante como nos podem tocar coisas que acontecem na vida de pessoas que na realidade nem conhecemos, como o seu sofrimento pode também ser de alguma forma sentido por quem lê. Fogo! Não sei pq acabou, mas só me faz sentido (como se me tivesse alguma coisa de fazer sentido!) que tenha sido por um 11 de Setembro das relações ou qq coisa assim.
Gosto de ti e espero que hoje sejas mais feliz! Beijinho 🙂
Terça-feira, 12 Junho, 2012 às 11:48
aNa
minha querida Inês,
já te tinha sentido a ausência. mt obrigada pelas tuas palavras. e pq tb gosto de ti, respondo-te q sou sim mais feliz do q estava naquela altura. tenho trabalhado mt para isso.
beijinho para ti.
Terça-feira, 12 Junho, 2012 às 13:06
Inês
😀 Beijinho