cheguei mais cedo do que o habitual.
está um calor atrofiante na sala de espera. a recepcionista é muito friorenta, pelos vistos.
à minha frente está uma rapariga com ar enfezado e doente. com ar enjoado. afundada no sofá, como se nas suas costas carregasse o mundo. será que já me terei sentado assim, aqui?
o pé direito abana ao ritmo da música, que vem mesmo a calhar “she’s a maniac, maniac”.
enquanto escrevo, sinto que me observa. o nosso olhar já se cruzou algumas vezes. hoje, particularmente, estou com um ar descontraído, feliz e confiante.
pergunto-me o que irá naquela cabeça de corpo magricela, enfezado. provavelmente, as mesmas perguntas que fará ao olhar-me.
(às vezes, é constrangedor o silêncio que se abate neste espaço, algo pequeno. as pessoas observam-se, como que procurando identificar algo nos outros, que as sossegue. que as torne mais iguais.)
ela levanta-se, pegando na carteira. ao dirigir-se à sala, sinto-a observar este caderno pelo canto do olho. enquanto caminha.
23.11.2004

12 comentários
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Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 14:30
manchinha
é assim mesmo atire-lhe com a dignidade do caderninho pois então apesar do cruzamento de olhares e do pezinho com ritmo
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 14:38
aNa
como vê, mais do que isto, aqui em casa não se produz.
muito pouco, como lhe disse, para as suas aspirações de descobridora de talentos. lamento 🙂
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 14:50
manchinha
não tente atirar-me areia para os olhos que não resulta menina iana já lhe disse que estou à espera dos seus primeiros capítulos e sei bem do que falo e também não gosto de ser contrariada por isso atire-se ao trabalho devo dizer-lhe q
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 14:52
manchinha
devo dizer-lhe que já descobri o caderninho que lhe convém e espero que goste que a mim encantou-me e esta treta dos seus comentários de vez em quando salta e pimba lá estou eu a fazer e a dizer ainda mais disparates que o habitual então diga lá agora se é capaz de recusar esse best-seller olhe que só aqui já tem gente que baste para a fila da apresentação vá lá a correr ao encontro das nossas expectativas
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 15:00
Só Maria
ah pois… que isto de ir agora dar volta a um caderninho de 2004(?) traz água no bico! 😉
está a tomar balanço para alguma coisa… parece-me! 🙂
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 15:26
manchinha
ora aí está um comentário cheio de senso e antecipação obrigada menina sómaria isto assim compõe-se
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 15:34
aNa
vocês não querem fazer uma sociedade??? 😛
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 16:02
manchinha
está em curso e a menina está incluída claro que a gente quer participar do seu sucesso e ainda podemos criar um clube de fãs e vender merchandising e velas votivas para acelerar esse best-seller
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 18:13
Mente Assumida
Ó prima… Novembro de 2004! Por tua causa, fui pegar na minha agenda de 2004. Esse dia foi uma terça-feira. Não me lembro particularmente do que fiz (tenho umas anotações de compromissos de manhã, a tarde livre). Só tu para me pores a vasculhar na minha agenda de 2004.
Será que evoluímos, prima querida? Eu acho que sim, eu quero acreditar que sim. É que já lá vão uns aninhos…
Acho que esse texto foi escrito num caderninho Moleskine que (fui conferir ao mEiA vOlTa e… 1.0) “pedinchaste” via blog a uma certa morena… 😉 Já tive o privilégio de ver esse caderninho. Quando morreres, lá para 2235, será peça de museu. Peça de um museu em tua honra que eu mesma patrocinarei financeiramente, se me elucidares sobre o que é a “vegetoterapia não-sei-das-quantas analítica”.
Abraços muitos. 2×2. 😉
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 19:24
aNa
Prima Mente
eu sei que foi uma terça-feira – dia de rute, logo, terça-feira 😉
e claro que evoluímos, por deus (como tu dizes)!
é o Moleskine que eu pedinchei, sim, mas que não terá grande utilidade em museu – como tu bem sabes, eu sou uma ganda calona, e nada dada a hábitos regulares. a única coisa que se tem mantido é o blog, porque eu gosto desta sensação de ver as coisas com cores. para além disso, ele está sempre no mesmo sítio – e como tu bem sabes, também, eu tenho aquele defeito de fazer desaparecer as coisas, que é um eufemismo para “eu nunca arrumo nada nos lugares certos e depois nunca as encontro – às coisas, obviamente” 😉
mas, já meti uma cunha, para tentarem descortinar o que é essa coisa.
beijos muitos. 2×2 🙂
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 19:29
marisa
De vez em quando também leio coisas que escrevi no passado!
O que será que pensava enquanto te olhava para o caderno?
Quinta-feira, 31 Janeiro, 2008 às 19:42
aNa
ahahah! boa resposta. ou melhor, boa pergunta 😉
na volta pensou que eu era uma obsessiva, daquelas que aponta tudo o que faz…