© Anabela Mendes

do pai herdei o gosto de conduzir devagar e por caminhos secundários.
no espaço de duas semanas fui duas vezes à santa terrinha com o jipe para levar a minha bicicleta. dizem os senhores que mandam nas estradas, que o dito cujo é classe 2 e eu, em retaliação, raramente ando com ele nas estradas que começam por um A. olho por olho, que eu até sou míope!
ontem no regresso a casa, demorei quatro horas e meia a fazer duzentos e pouco quilómetros. muito devagar, algumas vezes parada para fotografar, outras mesmo a sair do carro.
há duas semanas quando fui para casa dos meus pais, só capitulei já perto de Tomar, porque estava desvairada com fome e lá entrei na A13. portanto, saí em Vila Franca para o Porto Alto e segui ribatejo acima. é assustador a quantidade de coisas que estão fechadas. e casas abandonadas. fez-me lembrar quando andei nos Estados Unidos, mas pronto, aquilo não é bem um país, é quase um continente. Portugal é demasiado pequeno para ter tanta coisa ao abandono. chega a ser deprimente.
a parte boa, para mim, de andar assim a deambular sem hora marcada, pelos caminhos de Portugal, é que me permite reflectir sobre a vida. a minha, essencialmente – gosto cada vez mais destes momentos sozinha. há tanta coisa que me vem à lembrança, quase como um desfiar da minha vida desde os doze anos, altura em que vim para Portugal e comecei a fazer estes caminhos.

[fotografia acima: spot de prostituição à beira da estrada N110, que se encontra abandonado. reflexos da crise, ou do desvio do trânsito para a A13, ali mesmo ao lado?]