ontem, em conversa com a Maria, dizia-lhe que não conseguia, assim de repente, aquilatar o que verdadeiramente mudou em mim, com a psicoterapia. é frequente não me recordar duma série de coisas, porque sou extremamente preguiçosa e anárquica na minha organização mental. falta-me a necessidade que me obrigue a criar essa disciplina.
mas, há uma coisa que venho pensando há uns tempos e que se tornou mais presente após domingo.
uma das coisas em que fiquei diferente, foi que passei a ser menos filha e mais mãe. trocando por miúdos: deixei de esperar que fossem sempre os outros a tomar conta de mim, a ser sempre eu o centro da minha vida, para me abrir ao mundo e assumir que eu posso tomar conta, eu sei, eu faço. sempre tive uma costela contentora, que acho tem a assinatura da minha mãe, e a única coisa que fiz foi libertá-la mais.
aqui e ali, por quem não me conhece bem, essa atitude é encarada com alguma desconfiança. mas eu sou mesmo assim. gosto de ser atenciosa com as pessoas que me despertam interesse, preocupo-me, pergunto, mando abraços, beijos, etc, etc.
há uma pessoa que ‘mal conheço’, por quem tenho um imenso carinho, e com quem me preocupo. e, curiosamente, não podendo dizer que ela me recebe mal, também não posso afirmar que me abra os braços com ligeireza. sinto-a como uma enguia, que responde e tal, mas que foge de mim a sete pés. às vezes, fico com pena que não consigamos estar mais próximo. depois, fruto de tudo o que já vivi, pacientemente penso que um dia há-de ser. ou não. de qualquer forma, aquilo que eu gosto dela não está dependente disso.
e essa independência no gostar é uma coisa muito boa.

5 comentários
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Terça-feira, 20 Outubro, 2009 às 19:05
pedro
Eu estou a aprender a ser independente. Sinceramente, não sei se consigo. É que eu gosto muito de abraços! 🙂
Terça-feira, 20 Outubro, 2009 às 22:26
orquídea
curioso que comigo é mais ao contrário (mesmo lá p’ra trás mãe/filha). E ainda ando a aprender como é isso de alguém querer tomar conta de mim, sem que eu deixe de ser eu separada e autónoma de quem está de braços abertos para esta partilha (ao mesmo nível). [isto está com ar de pré-posta…]
Beijos
Terça-feira, 20 Outubro, 2009 às 23:06
kianda
Pois … eu também é mais ao contrário mas isso tu já sabias, mesmo sem “me conheceres”. Amanhã é mais um dia, e etapa a etapa, tentando não pular nenhuma talvez eu consiga chegar lá !!! Beijú com carinho.
Terça-feira, 20 Outubro, 2009 às 23:31
Cátia
Sabes Ana… Emocionaste-me com este post… É verdade! J
Ja te tinha dito que já tinha lido algumas postagens tuas na outra casa e apercebi-me de todo esse teu ser mais preocupado e carinhoso… Acho que por vezes o escondes com este lado mais extrovertido… Quanto a parte filha/mae… existem formas de estar, de encarar, que vamos alterando.. e isso vem com o tempo e a necessidade… nao?
Deixo-te um abraço
CA
Quarta-feira, 21 Outubro, 2009 às 13:59
aNa
Pedro
também eu! e pensas que deixei de os pedir ou receber? nem pensar nisso! 🙂
orquídea, my dear
o facto de nos deixarmos cuidar não implica dependência. não pode implicar, mesmo, senão temos a coisa estragada.
daí que não que ter receio de receber. deixar vir. percebendo, naturalmente, quem e porque razão deixamos. (muitas vezes esta é a parte mais difícil, né?)
kianda
it’s a kind of magic! 😉
tu vai conseguir tudo, até aposto!
Catia
não escondo, mas não é coisa de que esteja sempre a falar. a seriedade a mais torna-se uma coisa insuportável. e eu não me levo muito a sério. 😉
e claro que o tempo ajuda. ajuda muito. e a procura de nós. 🙂