a minha vizinha de cima teve um cão.
um dia estava deitada e comecei a ouvir uns barulhos estranhos. de tanto estar atenta, apercebi-me que seria um cão, não um gato, porque o barulho era pesado, como se ele fosse de encontro às coisas. pensando bem, poderia ser um porco, um leão, um hipopótamo. qualquer animal com algum porte, mas mudo. nunca ouvi a criatura animal a dar um pio que fosse!
questionava-me que raio de criatura humana era aquela que vivia por cima de mim, para ter um bicho, vá lá admitamos que era um cão, assim relativamente grande num espaço tão pequeno! eu tenho um estúdio e, a não ser que ela tenha comprado a casa do lado e deitado uma parede abaixo, ela terá espaço semelhante. eu sei que a desarrumação que reina nesta casa ainda a torna mais pequena, mas mesmo arrumada serve para tudo menos para ter um cão – quanto mais um porco, um leão ou um hipopótamo!
há coisa de umas semanas dei conta que o barulho da criatura animal, do mesmo modo que tinha entrado nas minhas noites, tinha sumido: de repente!
pois, que terá acontecido? já pensei em lhe perguntar, mas eu não gosto muito de intimidades com os vizinhos. chega-me os da frente, que falo muito cordialmente mas que nem sei os nomes embora os conheça há perto de vinte anos, e os outros da circunstância de partilharmos o elevador ou a escada. sim, porque eu como sou uma calona para fazer exercício, aproveito as escadas para treinar os glúteos, que uma mulher de rabo e mamas firmes é outra coisa!
há também a curiosidade – que Freud, ou até mesmo a minha terapeuta, explicaria – de eu achar que a criatura humana que vive no andar por cima do meu é uma mulher…

[a puta da máquina da roupa nunca mais acaba de lavar.]