a amargura é um sentimento que não tem benefício nenhum.
o tempo que gastamos a cultivá-lo, é mais do que um tempo perdido – é um tempo maléfico, que nos faz ressaltar o pior que existe em nós, que nos cega o horizonte, nos limita o pensamento, nos amarfanha como pessoas.
nem sempre a vida é feita de vitórias e glória. há momentos de perda, que nos abalam. perdas que, em consciência, pensamos não ter contribuído para elas acontecerem. mas o que nos faz seguir em frente é a elevação com que as encaramos, aceitando o inevitável e procurando um caminho objectivo que nos leve a superá-las.
procurar culpados, descarregar sobre eles a nossa fúria, alimentar ressentimentos, catalogar comportamentos, só serve para alimentar o mal. deveríamos ter mais em atenção aquilo que a história das pessoas, ao longo dos tempos, nos tem mostrado: mais cedo ou mais tarde toda a gente supera, perdoa ou resolve. às vezes isso só acontece em situações extremas, como é no caso de doenças, morte, etc, etc. mas, invariavelmente, o tempo esbate o lastro de amargura que carregamos. por isso, porque não atacá-la logo que surge? porquê alimentarmos uma coisa que é como um vírus que se espalha por nós e marca toda a nossa vida futura?
[encontrar nos outros o motivo pelo qual nem sempre a vida nos corre bem, para além de uma desresponsabilização total, é assumirmos que somos completamente incompetentes quanto ao rumo do nosso destino. o que se revela uma tristeza…]

20 comentários
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Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 12:32
João
Ora, nem mais! Não seria capaz de dizer o mesmo com tanta clareza.
O limão é imprescindivel é no gin… aí sim, é o lugar previligiado para mostrar todas as suas características e qualidades 😉
Beijo
Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 14:19
aNa
ai João, como é que eu não me lembrei disso??? isso é que era um grande título “o limão é imprescindível no gin tónico”!
Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 12:59
artemis
talvez porque a perda desorganiza emocionalmente uma pessoa de tal maneira que, a curto prazo, fica difícil pensar ou agir de forma objectiva (e em prol do que é melhor para si; aliás, após uma perda, provavelmente a única coisa que a pessoa pensa ser o melhor para si seria mesmo não ter perdido).
talvez a melhor (e única) forma de combater uma determinada amargura seja depois de a conhecer e sentir bem na pele.
por mim, claro que dispensava a amargura, atacando-a logo com pensamentos “isto não serve para nada”, “tão inútil”, “faz mal”, “não leva a lado nenhum”. mas há momentos em que a emoção é mais forte que a razão. não é isso também que nos faz humanos?
(adorei o título do post – para não variar… 🙂
Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 15:09
aNa
às vezes não interessa nada encontrar o porquê da coisa. claro que os nossos actos e a nossa forma de sentir têm sempre uma justificação.
o que interessa, verdadeiramente, é o que fazemos a partir daí. porque é isso que determina o nosso bem-estar.
obrigada pelo cumprimento ao título, mas tenho pena de não me ter lembrado do gin tónico. 😉
Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 14:55
Spicy
Simplesmente extraordinário…
Tal como “pela tarde dentro…”, escrito há uns dias atrás.
Muito racional, mas muito bom.
Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 15:13
aNa
eu, emotiva como só, acho a emoção fascinante, mas é a razão que nos faz evoluir. 😉
Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 18:47
anabela
beijo 🙂
Quinta-feira, 23 Junho, 2011 às 13:19
aNa
beijo, querida. saudades tuas.
Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 20:36
Joana
aNa, já que tem a gastronomia no título…..a amargura só conheço aquela que ataca o estômago….uma simples sensação, não chega a ser sentimento!
É uma espécie de reacção instantânea, à flor da pele, involuntária, rápida e inconsequente!
Como outras sensações….só custa à primeira! O tempo e a sua repetição torna os esclarecidos, imunes. E os menos esclarecidos torna-os… cada vez mais tristes e estúpidos!
Brindo, como sempre, à sua racional emoção, ao seu gin tónico.
Quinta-feira, 23 Junho, 2011 às 13:20
aNa
cheers! excelente comentário!
Quarta-feira, 22 Junho, 2011 às 20:51
B
esses limões amargos são realmente uma coisa chata, triste, amargos mas…. depois de tudo bem moido, exprimido e sugado aparece sempre um “KOMPENSAN” na nossa vida!
e lá vamos nós brincar com um belo gin e dizer que a vida é bela!
Quinta-feira, 23 Junho, 2011 às 13:26
aNa
como diz a bethania, a vida é bonita, é bonita, é bonita!
tenho saudades tuas, amiga!
Quinta-feira, 23 Junho, 2011 às 01:37
mavi
Querida aNa, que saudades desta casa e do conforto destas palavras ainda que elas sejam sobre desconforto… e… se for preciso ajuda na roupa é só dizer, e mais… confesso que estou nos 23% dos mac osx… pois foi, soube-me tão bem ler de seguida um post e outro e outro. Abraço.
Quinta-feira, 23 Junho, 2011 às 13:29
aNa
que bom vê-la por aqui. pensei que já tinha abandonado o meu cantinho.
a roupa… jamais sobrecarregaria uma ilustre visita com os meus pobres defeitos. 😉
inveja do seu mac, mas está na lista das próximas aquisições.
beijinho, bom feriado e espero vê-la por aqui mais vezes.
Quinta-feira, 23 Junho, 2011 às 16:33
Bela
Que belo texto. É a pimeira vez que comento um post seu. Mas diante da clareza deste texto . A vida pequena e importante demais para darmos do nosso tempo a sentimentos como o rancor e a amargura.
Sexta-feira, 24 Junho, 2011 às 11:03
aNa
sabe que existe um prazer secreto, provavelmente não tão secreto para outros que são bloggers também, de cada vez que se recebe um comentário de quem nunca comentou? 🙂
e eu sou uma pessoa que valoriza os pequenos prazeres.
bem vinda!
Sexta-feira, 24 Junho, 2011 às 01:56
Patinho feio
Amargura é veneno que corrói. Como gotas de limão numa superfície de mármore.
Sexta-feira, 24 Junho, 2011 às 11:04
aNa
estava à espera do teu comentário. 😉
Sexta-feira, 24 Junho, 2011 às 13:16
T
Tenho a sensação que por vezes as pessoas se alimentam de amargura porque não encontram mais nenhum alimento à sua volta! E isso é que é triste. Não é tarefa facil assumir a culpa que se tem, por tudo o que nos vai sucedendo na vida, de positivo e de negativo, daí essa desresponsabilização. O amigo Claude Lévi-Strauss tem a sua razão ao dizer: “Recusando todo o sentido à vida, esse que assim faz impõe a si mesmo a rude mas inevitável tarefa de lhe dar um.” E isso às vezes é que é muito difícil!
Temos mas é de ir beber esse belo gin 🙂
Sexta-feira, 24 Junho, 2011 às 15:56
aNa
palavras tão sábias, minha amiga!