veio a chuva e alagou tudo. vejo a água a arrastar lençóis amarfanhados, cadeiras que tiveram ocupantes, copos que tiveram líquido, livros que tiveram palavras, palavras que tiveram ideias.
sou sugada pelo mar, que invade a marginal e me vem buscar. arrasta-me, sem dó, rua abaixo. já a água me entra pela garganta, pelo nariz e eu sem a mínima hipótese de me debater.
lá do alto, alguém tira fotografias com um flash que ilumina tudo até à ponte. cristo redentor, porque continuas imóvel?
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será uma insónia? ou o pesadelo de todo um despertar violento, para a vida que se recria?
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seria capaz de pegar numa agulha sem barbela e fazer uma camisola que me aquecesse. não fora a dificuldade em escolher o número da linha. a cor que se ajusta. o azul que se me enfiou garganta abaixo. o castanho que me atirou para o chão. o vermelho das feridas. tudo menos algodão, que se cola. gaze. compressas.
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quando era criança caí muitas vezes. guardo a recordação em todas as cicatrizas dos meus joelhos. nenhuma me incomoda tanto, como aquela que tenho entre o lábio superior e o nariz.
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até logo, Mãe!

5 comentários
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Quinta-feira, 17 Fevereiro, 2011 às 02:44
as orquídeas já estão em botão
texto maravilhoso…
Quinta-feira, 17 Fevereiro, 2011 às 11:51
aNa
o*b*r*i*g*a*d*a!
Quinta-feira, 17 Fevereiro, 2011 às 12:23
Cátia
Ainda aqui virão a dizer que estavas a sonhar ou que o escreveste com um copito a mais… (Se não escreverem, pensarão! – eu hoje estou assim).
Mas concordo com o primeiro comentario, está muito bom, como dribles de pensamentos… há mesmo que deitar as coisas cá para fora! … E por falar nisso… vou ali ouvir o Tony 😉
Quinta-feira, 17 Fevereiro, 2011 às 12:24
Cátia
[nao vou nada! foi só uma forma de dizer… ainda pensam que sim e mancham-me a reputação! – hoje estou mesmo azeda, livra!]
Beijo querida 🙂
Quinta-feira, 17 Fevereiro, 2011 às 12:33
aNa
sabes bem, acho, que eu só ligo ao que pensam de mim, se forem coisas boas. 😉