ultimamente tenho pensado muito (e discutido também) a questão da fé.
aquela que, como a minha maria diz ironizando, me há-de aparecer num dia especial, acompanhada de foguetes e trombetas, que eu não faço a coisa por menos. sou tão simples no gostar e no receber aquilo que a vida tem para me dar, mas armo-me em pedante e exijo que a fé seja uma coisa diferente, engalanada, que me bata com tal força que fique a modos que atordoada e definitivamente rendida.
enquanto esse dia não chega, e quando me tentam explicar que a minha forma de estar já encerra uma enorme fé (acho que querem dizer fezada e têm receio da reacção, não vá dar-se o caso de eu estar com fome), eu vou (-me) justificando a minha postura com uma coisa que se chama crença.
desde que me recordo, nunca ouvi os meus pais queixarem-se com o azar, para justificar as coisas menos boas que aconteciam. cresci sem lhes ouvir rancor em relação aos outros, sem saber o que era inveja, antes um acreditar imenso que à nossa volta só está quem queremos que esteja, e se a esses tratarmos bem, mais bem virá para nós. e não é que a vida, aqui e ali, não tivesse sido madrasta com eles, mas sempre me transmitiram que tudo seria possível se tivéssemos empenho, dedicação e o mais importante, acreditássemos no que fazíamos. e que a vida podia ser bem melhor, se não tivéssemos de atropelar terceiros para chegarmos ao nosso destino.
a minha crença baseia-se nisto. sempre acreditei que me iriam acontecer só coisas boas – na verdade nem sempre foi assim, mas não me recordo de nada verdadeiramente devastador e irremediável. e todas as coisas menos boas que me aconteceram, serviram para me fazer crescer – e bem que precisei delas, filhinha única a quem tudo foi provido sem grande cobrança. e nessas coisas boas, está directamente ligada a relação que mantenho com as pessoas. sei, mais do que acredito, sei, que a minha atitude perante os outros, influencia na mesma medida o retorno. daí que procure só dar o melhor de mim. porque só quero receber o melhor, também.
e, na verdade, a vida tem-me dado coisas muito boas. e pessoas, também, que às vezes são o mais difícil de encontrar.
e a isto, chama-se crença. acreditar que se gerarmos boa energia, recebemos em troca.
a fé… talvez por causa da influência religiosa a que dificilmente se escapa (não sendo sequer preciso ser praticante, basta ser informado), eu acho que a fé é aquela coisa que me chegará num dia especial, acompanhada de foguetes e trombetas. e esta definição para mim quase se torna num dogma, coisa mais irónica!

10 comentários
Comments feed for this article
Terça-feira, 25 Março, 2008 às 15:49
Bifinha
Cheguei ao fim de tanta letrinha… ufa! E só por causa das coisas vou escrever um textinho ali na minha casa!
Terça-feira, 25 Março, 2008 às 16:44
lupy
Nossa, um tratado. Pensei que deveria ler de novo e tentar dissecar. O que se lê e o que está nas entrelinhas, do género: que queres tu encontrar?
que te faz falta? ou melhor, o que ainda sentes como necessidade?
que te falta libertar ou, melhor, o que ainda não percebeste na tua pessoa?
o que já cresceste, ou melhor, o que sentes que ainda precisas crescer?
o que não gostas, ou melhor, o que já melhoraste na tua pessoa?
o que não voltarias a fazer ou melhor (mais precisamente nestes “melhores” todos) o que apreendi e o que aprendi…
ter fé é como estar apaixonado (e se este ultimo já sabes) então não é mais que estar de peito aberto e dares aos outros o que, caso estivesses no seu lugar, darias a ti própria – aquela máxima é fantástica ” ama o teu próximo como a ti próprio” – não é fácil, mas se era para dar opinião não conheço outra. Não é fácil, mas é como dizes, o retorno virá na mesma medida. É isso que me faz continuar o caminho e se isso é importante para continuar, então a isso chama-se fé.
Terça-feira, 25 Março, 2008 às 17:39
Só Maria
a fé… […]”sempre acreditei que me iriam acontecer só coisas boas.” […] “a minha atitude perante os outros, influencia na mesma medida o retorno.” […] “acreditar que se gerarmos boa energia, recebemos em troca.” […]
pegando nestas três pequenas frases suas, penso que se pode definir a fé… a sua, claro!
e não acredite que vai alguma vez encontar uma definição feita por alguém que se enquadre exactamente naquilo que é a sua fé. cada um de nós tem a sua forma de viver e expressar a sua fé, apenas os princípios são comuns a todos, ou deveriam ser, e esses eu encontro-os naquelas suas três frases.
o melhor de tudo, é que isto se passa sem foguetes nem trombetas e eu humildemente tenho o privilégio de assistir a isto e de o partilhar consigo também!
Terça-feira, 25 Março, 2008 às 18:18
Lover
lindo menina iaNa, é assim esse seu bem-estar com a vida que deixa a vida estar de bem consigo…eu, Católica de Formação e Deformação, acho que a menina com as suas palavras O deixou babado com tanta fé na vida e crença nas pessoas…gostei mesmo muitooooo…não é preciso definir, é só preciso sentir e melhor ainda, como a menina tão bem o faz, partilhar…
Beijinho
Quarta-feira, 26 Março, 2008 às 00:11
tangas
resumindo: a menina, fé já tem, como acabou de demonstrar. mas adora chamar-lhe montes de nomes. pronto, chame, que a gente também gosta. 🙂
Quarta-feira, 26 Março, 2008 às 10:38
aNa
Bifinha
tu e as letrinhas…
lupy
a resposta a tudo o que escreves, e que me faz imenso sentido [o que não é de espantar], é que eu devo fazer uma resistência enorme para aceitar aquilo que é o óbvio.
tenho de pensar melhor no assunto – e fazermos uma tertúliazinha bem regada para tirarmos ilações, ou não.
Só Maria
oh 😦
é que eu gosto tanto de foguetes e trombetas… 😉
acha que se eu abrir a cabeça, a coisa faz mais sentido? 😉
Lover
pois… é o que já disse acima – toda a gente percebe menos eu 🙂
tangas
é a minha costela artística 😛
Quarta-feira, 26 Março, 2008 às 10:46
tangas
a propósito de arte… 😛
Quarta-feira, 26 Março, 2008 às 11:46
Só Maria
menina aNa, a coisa já faz sentido! não carece abrir a cabeça! 😀
Quarta-feira, 26 Março, 2008 às 12:24
tangas
a carência é de, de vez em quando, pararmos com tudo e sentarmo-nos um bocadinho a olhar para o mar e a desfrutar de tudo. o que se passa à nossa volta é imenso, não é?
Quarta-feira, 26 Março, 2008 às 12:32
aNa
olé se é! 🙂