sendo que altruísmo significa egoísmo, não Blue?
esta questão surge porque, para além da dificuldade que existe na separação dos filhos, e acredito que cada vez mais essa dificuldade seja igual para pais e mães, sinto que há um pouco a ideia enraizada, nas mulheres, que as mães são sempre mais capazes de criar os filhos, do que os pais.
e eu, como sabes, não sou uma coisa nem outra, mas tenho imenso interesse pelo assunto, mais até pelo lado dos filhos.

12 comentários
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Quinta-feira, 22 Novembro, 2007 às 16:21
Blue
Ui… é difícil responder-te… a maternidade para algumas mulheres pode ser um exercício egoísta e pode chegar a ser sufocante para as crianças. E eu até sou um bocadito mãe galinha e sei que as minhas filhas um dia vão reclamar por eu ter andado sempre em cima delas… mas no meu caso nem sequer foi opção. O pai nunca as quis a tempo inteiro, e neste momento nem sequer a meio-tempo… agora é mais a tempo quase nenhum!
Tomar conta de crianças pequenas em regime 24/7 dá trabalho, ó pois dá… e se hoje te respondo duma forma aparentemente ligeira é porque até tou benzinho porque aqui há uma semana atrás e após umas quantas noites a dormir pouco ou nada por causa duma otite mal curada provavelmente te diria que quem quiser uma filha pode levar a minha emprestada!! Até mando os brufens e os antibióticos, xaropes anti-tussicos e nasometes e mais o camandro e ainda uma máquina de vapores que resultados práticos nem vê-los porque a tosse depois continua igual à de antes e dá-lhe vómitos e se a roupa da minha cama se mantém lavada é porque sou muito rápida a pegar nela e voar prá casa de banho quando lhe sinto os vómitos a subir!!
Falando a sério eu até acho que é giro tomar conta de putos umas horitas de vez em quando e nas férias. Agora ter essa responsabilidade em regime permanente para mim não é egoísmo, é altruísmo. Até porque os nossos filhos nunca nos irão agradecer por tudo o que fizemos por eles. Nem nunca irão reconhecer sequer o que fizemos por eles a não ser que um dia sejam pais e então percebam o trabalhão que nos deram… o que vale é que os seus sorrisos e os seus abraços e o consolo que (ainda) lhes conseguimos dar quando procuram o nosso colo… compensa tudo o resto! 🙂
Quinta-feira, 22 Novembro, 2007 às 16:52
aNa
Blue
eu optei por só colocar aquela frase, mas que vinha na sequência do receio que as mulheres homo têm que lhes tirem os filhos. o egoísmo era referente a isso.
de resto, não entendo que ser mãe é um acto de egoísmo, da mesma forma que não o entendo como altruísmo – ter filhos não é uma consequência, é uma escolha. uma escolha corajosa, reconheço. até porque o altruísmo é uma definição muito dúbia – toda a gente que pratica o bem, tem alguma compensação nisso. a nossa cultura é que gosta muito de enaltecer essa coisa do altruísmo.
e claro que os filhos reconhecem o que os pais lhes fazem – nem sempre reconhecem é da forma que os pais gostariam. ou seja, reconhecimento não implica sempre uma opinião positiva 😉 . não duvido, salvo raras excepções, que aquilo que os pais fazem, o façam para o melhor dos filhos. mas, nem sempre, isso será o melhor para eles. mas também não há que preocupar com a coisa – a malta quando cresce e se apercebe disso, vai fazer terapia e arruma as gavetas 😉
Sexta-feira, 23 Novembro, 2007 às 09:14
Blue
🙂 discordo ligeiramente em relação aos filhos reconhecerem o que os pais fazem por eles… acho mesmo que nós só sentimos isso quando nos tornamos pais. Eu falo em altruísmo (como oposto ao egoísmo) porque como pais temos o dever de pôr os nossos filhos em primeiro lugar e isso até acabamos por o fazer duma forma inconsciente… assim que nascem passam a vir em primeiro lugar, e as necessidades deles passam à frente das nossas… pelo menos nos primeiros anos… pelo menos até ver… não sei bem explicar… mas sei que na minha decisão em me separar senti-me muito culpada por estar a acabar com a “família” das minhas filhas, senti que a falha era minha, que não tinha estado à altura da mãe que elas mereciam ter… olha se calhar a nós mães também nos faz falta algum tipo de terapia! 😉
É complicado e nunca ninguém sabe a extensão de alterações que a decisão de ter filhos acarreta. Alterações na nossa vida, mas também em nós, tornamo-nos pessoas diferentes. Uma das coisas complicadas de gerir é o facto de termos que aceitar os nossos filhos tal como são… pessoas muito distintas de nós, mas por vezes demasiado parecidas connosco (e se soubesses o que me enerva ver atitudes na minha filha mais velha iguais a atitudes minhas na idade dela… e pensar… “meu deus como eu era uma miúda parvinha! Nem sei como os meus pais me conseguiam aturar!” É karma ser eu agora a ter que enfrentar uma segunda via de mim! :P)
E a preocupação permanente que temos por eles… não há hora em que não pense se estarão bem… não há alívio até as saber em casa, protegidas, resguardadas e ainda assim… vai ser difícil um dia deixá-las seguir a sua vida… isso vai! E nisso sim, reconheço o meu egoísmo… porque um dia as quis só para mim… mas as crianças não são nossas, não nos pertencem, nem a ninguém e um dia vou ter que as ver ir… mas até esse dia sei que ainda vou ter muitas mais dores de cabeça por elas… que lhes vou aturar muitas birras e indisposições… que vou tentar ajudá-las nos seus pequenos (e grandes) sofrimentos físicos e emocionais… e se soubesses o que custa ter um filho a pedir-nos para lhes parar a dor e nós não conseguirmos, nem sabermos o que fazer senão voar para um hospital e esperar que algum médico milagreiro os faça parar de sofrer. Olha essa é outra… não há sofrimento maior do que ver um filho nosso a sofrer… preferia mil vezes que a dor fosse minha do que delas, e suportaria qualquer dor para que elas nunca tivessem dores…
Acho que talvez seja por isso que tentamos fazer o melhor para os nossos filhos, porque não queremos que eles sofram, queremos protegê-los a todo o custo para que tenham uma vida tranquila e uma existência despreocupada. E mesmo com todos os nossos esforços nem sempre conseguimos e isso sim… é algo que um dia provavelmente me irá levar a procurar a tal terapia mas é para mim! 🙂
Sexta-feira, 23 Novembro, 2007 às 11:49
aNa
Blue
terapia faz bem a toda a gente 🙂
eu insisto no reconhecimento – eles reconhecem, sim, podem é não reconhecer o que os pais querem ver reconhecido. porque o que os pais desejam é que os filhos reconheçam que tudo foi muito bem feito, e nem sempre isso é verdade, ainda que os pais o tenham feito com essa intenção. o mistério, e ao mesmo tempo fascínio, da educação é que nunca se tem certeza dos efeitos práticos que a coisa provoca. no retorno disso aos pais, mas também na interacção com terceiros.
e nem é necessário ser-se pai ou mãe para perceber o quão difícil são as tarefas de criar, educar e cuidar. e são as três tão diferentes. tenho imenso respeito por pais. pelo menos pelos que conseguem conjugar as três. o que nos tempos que correm não é nada fácil.
Sexta-feira, 23 Novembro, 2007 às 12:09
Rita
Eu sei que o assunto do post original era outro. Mas quando li a frase destacada aqui lembrei-me imediatamente de uma quantidade enorme de mulheres que abdicam de tudo para serem apenas mães. Muitas delas, acredito que o façam por puro prazer. Mas sinceramente desconfio sempre de quem me diz que «os meus filhos são a única coisa que importa». É óbvio que eles são o mais importante, até porque o nosso amor por eles dificilmente é comparável a outro.
Mas esse altruísmo de que se fala parece-me por vezes uma camuflagem para uma anulação da mulher enquanto tal. É como aquelas que se vangloriam de nunca mais terem comprado uma peça de roupa para elas desde que os putos nasceram. Eu acho isto deprimente. E preocupante. Detesto que me tratem por «mãe» no infantário onde o meu filho anda há 3 anos e onde todos sabem que o meu nome é Rita. Compro muita roupa para mim. Vou ao cinema. Vou a concertos. Saio à noite. E mesmo assim adoro o meu piolho.
Mais. Acho sinceramente que os filhos reconhecem mais tarde de uma forma bem mais positiva, não os pais que sempre estiveram tipo lapas em cima deles, mas aqueles que sempre se sentiram homens e mulheres completas. Que não deixaram de saber o que é o mundo dos adultos extra-filhos. Porque assim eles serão mais bem entendidos. E eu acredito que também serão mais bem amados.
E se calhar é aqui que se pode falar do assunto verdadeiro do post. Assumir o que se é, assumir que não somos perfeitos, que não sabemos tudo e que mudamos de ideias e que o mundo é assim, colocarmo-nos ao nível dos humanos e não de mães endeusadas, só pode fazer bem. A verdade, acho eu, raramente é uma má escolha.
Sexta-feira, 23 Novembro, 2007 às 12:37
amariadaiana
Ainda no outro dia ouvia alguém (já não sei quem foi mas sei que foi um desses psis que falam na TV mas dos que gosto) dizer que os filhos serão adultos com tanta auto-estima quanto aquela que viram os pais terem. As crianças aprendem por imitação. Muito mais do que por aquilo que lhes dizemos ou que lhes fazemos. É aquilo que NOS fazemos que elas vão aprender e fazer-SE.
Tou tão contigo, Rita! E convencer a grande maioria das mães? De que quando pensam nelas estão a mostrar aos filhos a importância da auto-estima? Mas também… há tantas mulheres que nunca foram mais nada. Quando são mães têm, finalmente, a sua oportunidade de serem importantes…
Sexta-feira, 23 Novembro, 2007 às 12:58
aNa
Rita
o teu comentário, ainda que a fugir ao tema inicial, é extremamente importante, até porque és mãe, e eu concordo inteiramente com ele.
uma vez, no meia volta antigo, escrevi um post sobre as mulheres que, após a maternidade, se dedicam quase exclusivamente a serem mães, e iam-me comendo!!! foi uma guerra descomunal (e o que eu gosto disso 😉 ).
mas, em conversa com algumas colegas, tento falar-lhes do impróprio que é para elas, enquanto mulheres, essa abnegação, e a resposta é invariavelmente esta: falas assim porque não és mãe. eu encolho os ombros e desisto da conversa logo de imediato.
minha Maria
e tudo isso num post, hem? isso é que era!! 😉
basta isto: a importância da auto-estima.
Sexta-feira, 23 Novembro, 2007 às 13:18
Rita
Ah sim, essa é outra… Se não és mãe, não sabes nada… Enfim. Essa faz-me sempre lembrar um dia em que eu trabalhava na Pais&Filhos e entrou lá um gajo na redacção a perguntar se alguma vez tínhamos feito um artigo sobre um assunto qualquer que lhe interessava. E depois disse: «mas queria um artigo que tivesse sido escrito por alguém que já tenha filhos» (o que na altura não era o meu caso….)
Bem, tive de me conter para não lhe perguntar se ele também já tinha pilotado todos os barcos sobre os quais escrevia (visto que o gajo era director de uma revista de barcos, ou lá o que era aquela merda).
Essa gente irrita-me. E sim, com esses, nem vale a pena discutir.
Segunda-feira, 26 Novembro, 2007 às 09:34
Blue
🙂 “A verdade, acho eu, raramente é uma má escolha.” Adorei Rita!!
Não consegui deixar de me sentir culpada quando me divorciei e ouvia algumas pessoas a chamarem-me de egoísta, por estar a pôr o meu bem-estar emocional à frente do que essas pessoas achavam que era o melhor para as crianças.
Mas escolhas são escolhas… e eu sempre disse que não deixava (nem deixei) de ser mulher por ter sido mãe. E lá por ter sido mãe isso não faz de mim mais do que qualquer outra mulher, sei tanto como qualquer outra pessoa, e como tal gosto de trocar pontos de vista com pessoas que se interessem pelos mesmos assuntos do que eu. 🙂
Segunda-feira, 26 Novembro, 2007 às 21:19
Ana Rita
é na realidade apercebêmo-nos q hoje em dia e ainda bem para quem descobriu isso claro, que não sabemos saborear nada na vida sem o nosso desenvolvimento pessoal feito ou estruturado e infelizmente só quando vamos á “Rute” é q percebemos os anos em q estivemos afastados dessa realidade pq a tradicional família espera e continua a esperar dos filhos sem sequer primeiro os tentar conhecer p saber q caminhos irão escolher. Deparei-me durante muito tempo c essa questão pq a angústia q senyia n me dizia respeito m sim áqueles q sem q lhes tivesse pedido p nascer me exigiam a correcção na diferença…de repente acordamos e percebemos q o conceito de família ensinado n passa de ser apenas hipócrita.
Maternidade é escolha como tal é livre e o q ninguém pode igualmente contrariar é q o fruto nasce igualmente com a mesma liberdade q é a de escolher…. o ser humano ainda está a anos de luz de distância p perceber q numa relação seja ela qual fôr n há lugar p a cobrança esse sim é o amor livre e responsável pq nos obriga a pensar, a tomar decisões e a saber esperrar o resultado.
Enquanto docente acho alguma piada a determinados encarregados de educação q aparecem p exigir da escola papéis q n lhes compete pq em casa anulam como pais, amigos e orientadores q é p isso q os pais servem…ORIENTAR.
E sim as crianças até á construção segura do seu EU crescem por imitação o q não deixa de ser engraçado qd ensinam ás crianças p não mentir m em td caso se atenderem o telefone e a chamada se dirigir ao pai este pede ao filho p dizer q n está…
Somos tds seres individuais como tal seja xx ou xy n se pode invalidar a sua existência em virtude das sua crias até pq é desta forma q estes últimos aprendem a SER… apenas SER.
E Rita percebo-te perfeitamente pq trabalho no pré-escolar e detesto quando ouço colegas a tratar os enc. de educç. por mães ou pais é como nem tivessem direito a nome, m isto dava uma grande conversa e este espaço n é meu, portanto…SEJAM apenas Sejam
e viva a terapia um abraço a todas,
Ana Rita
Terça-feira, 27 Novembro, 2007 às 13:38
aNa
Blue
é verdade que a verdade faz sempre mais sentido. ainda que sejamos penalizadas por isso, e não raro isso acontece porque nem sempre as pessoas estão preparadas para a verdade, pelo menos para quem a diz fica a sensação de estar bem consigo.
Ana Rita
grande discurso, sim senhora 🙂
sente-te à vontade para dizer e comentar. o espaço dos comentários é de todos, desde que respeitem os outros, para mim tudo bem 🙂
e a terapia… faz falta a tanta gente, só não sei é se toda a gente consegue lá chegar. ao fim, com resultados, quero eu dizer 😉
Segunda-feira, 3 Dezembro, 2007 às 18:00
marta
já venho comentar muito atrasada.
venho, porque não acredito, nem por um bocadinho que quem prescinde da felicidade, como foi dito, em favor dos seus filhos, possa sequer estar a fazer bem aos ditos filhos.
Quem prescinde da felicidade e quem diz que os “filhos são tudo para mim”, são pessoas muito frustradas…dou de barato que podem, ainda, não o ser, mas mais cedo ou mais tarde sê-lo-ão, e quem vai pagar as favas por isso, são os mesmos filhos que elas adoram.
Sempre disse aos meus, que ser mãe, não é ser escrava, e pela saúde mental dos meus filhos nunca, por nunca, abdicaria da felicidade, tivesse elas os contornos que tivesse.