obviamente, que quando alguém questiona quem é o homem numa relação de lésbicas, está tudo menos interessado em saber, quem é que tem jeito para o bricolage e quem é que cose os botões.
a pergunta traz, sobretudo, uma curiosidade sobre o carácter sexual da coisa. eu nem vejo mal nenhum nisso. na curiosidade (quantas vezes, olho para um triste de um director que aqui anda, e me questiono o que fará aquele tipo com a mulher, na cama). claro que essa curiosidade sobre “como é que as mulheres se desenrascam” não é inocente, é provocatória e encerra, na maioria da vezes, algum ressabiamento. daí que a importância que lhe deve ser atribuída seja nula. a não ser que se tenha a intenção de querer mudar o mundo, o que me parece tarefa algo árdua e até estéril. o investimento não deve ser feito com quem não chega lá – é mera perda de tempo.
eu nunca fui confrontada com esse tipo de questões – toda a gente sabe que lá em casa parafusos e bricolage é com a maria, assim como os vernizes e os batons – e sei bem porquê. nunca me pus a jeito para que elas surgissem: os meus amigos não me questionam sobre questões íntimas, e os conhecidos nem lhes dou hipótese, sequer, de o fazerem. isto é simples como água.
quanto ao que poderão dizer nas minhas costas, é à vontadinha. a mim só me interessa a opinião dos que gostam de mim, e ainda assim, com alguns limites. as decisões sobre a minha vida não são colocadas em assembleia, e o mínimo que exijo é respeito e independência total, que é o que dou aos outros.
aqui e ali, fica-me a sensação que há muito quem se ponha a jeito, para depois poder acusar. mas isto digo eu, que sou um bocado cínica.