a partir dessa altura, grande parte dos meus sábados tornaram-se diferentes.
tinha de acordar cedo, muito cedo, muitas vezes deitando-me tarde, não na véspera mas já nesse mesmo dia.
os jogos eram, geralmente, às dez da manhã. o que me obrigava, a mim e às restantes pessoas, a estar no clube, no máximo dos máximos às nove. e quando jogávamos fora, oito e tal. no primeiro ano, por via do desconhecimento em relação às outras equipas, errávamos estradas e estradas. uma vez, andámos perdidas num monte na malveira, a carrinha quase a enterrar-se, quando o campo era na estrada que vai para o guincho!
angustiava-me imenso, até tudo estar a postos para se jogar. às vezes ficava impossível. mentalmente, empurrava-as para dentro da carrinha, ou para o balneário, desejava ter super poderes para controlar tudo. e, principalmente, ninguém se atrasar.
havia uma menina, que tinha esse péssimo hábito. já toda a gente estava na carrinha, e ela esboçava a sua silhueta ao fundo da rampa.
um dia, com a minha maior paciência, perguntei-lhe “olha lá, minha pequenina, tu moras muito longe daqui?”. ela, com aquele ar cândido, cabelinho loirinho, de roupinhas sempre muito arranjadinhas, respondeu-me “não. está a ver aqueles prédios ali em cima? eu moro lá.”. sem desistir, procurei nova resposta “então? acordas tarde, é?”. novamente, muito tranquila disse-me “não, claro que não. tenho de acordar cedo para tomar o pequeno-almoço”. aí, já não devo ter disfarçado a minha irritabilidade “então, porque é que chegas sempre atrasada? tens relógio, não tens?” e ela continuou “sabe, depois de me despachar, sento-me a ver televisão e o tempo passa sem eu dar conta.”.
com o tempo [anos] confirmei que aquela não era uma desculpa encontrada à pressa. nem era negligência. era, tão somente, uma forma de estar, que na maioria das vezes irritava toda a gente à sua volta. sempre a vi incapaz de cumprir horários, ainda que tivessem um lapso de meia hora. está-lhe no espírito.
passados dez anos, continua assim – linda. sempre com aquele arzinho de menina. e a adiar coisas. esquecendo-se de pôr em prática o talento. é o que faz ter alma de artista.
para a I.

1 comentário
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Quinta-feira, 4 Outubro, 2007 às 19:10
alexandra
ah lembrou-me a minha clarinha! A Clarinha a meio de discussões importantissimas (achávamos nós!) na associaçãozeca onde pastorávamos e apesar das funções importantissimas (achávamos nós) de tesoureira, que ela assumia – levantavasse e saía porque estava na hora de lavar o cabelo…
A clarinha também me costumava pedir para trazer folhas A4 das grandes. Há quem lhes chame A3… E aborreceu-se uma vez comigo por ainda não lhe ter respondido à carta que me tinha enviado naquele dia…