a minha mãe nunca foi uma pessoa com muito sentido de humor – era demasiado pragmática e racional para se dar ao luxo de querer entender o alcance das coisas.
há uns tempos que venho observando que isso tem mudado. e ontem, ao telefone, ao contar-me que a minha tia lhe tinha perguntado como é que ela ía festejar o seu aniversário, dizia-me a resposta que lhe deu com uma voz alegre e ao mesmo tempo trocista “olha, sei lá, estou a pensar em ir a madrid almoçar… e depois, viajar por aí!”. a frase não tem nada de extraordinário, excepto o facto de ser de um humor extremamente irónico, nada habitual nela. e deliciou-me, confesso!

hoje faz anos. 76. e ao telefone, ao dar-lhe os parabéns, senti-me tão bem com ela. reconciliada. voltei a sentir-lhe uma amor ternurento e tolerante. voltei a gostar dela sem agitação. sem questões. de novo próxima, após o afastamento que precisava para resolver o que ela me tinha dado, e transformá-lo no melhor para mim.
e isso é tão bom, mas tão bom, que me sinto tranquila e em harmonia.